A defesa da Caixa e do Banco do Brasil diante dos ataques do governo Bolsonaro foi tema de uma das oficinas realizadas no Fórum Social Mundial 2021, nesta quinta-feira (28). O debate foi promovido pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) e o Sindicato dos Bancários de São Paulo (Seeb/SP).

 Os participantes debateram a importância dos bancos públicos para amparar a população por meio dos programas sociais e para ajudar a alavancar a economia do país em momentos de crise. “São os bancos públicos que cumprem as funções mais relevantes para a sociedade – fomentam o desenvolvimento econômico regional, combatem as crises econômicas com políticas anticíclicas como na crise de 2008 e agora, na pandemia”, disse o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.

Takemoto acrescentou que a atuação da Caixa e de seus empregados foi fundamental para ajudar o país a enfrentar a pandemia. Além do auxílio emergencial, a Caixa pagou outros recursos emergenciais como os saques do FGTS e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm). O presidente da Fenae acrescentou que a Caixa e o Banco do Brasil também foram essenciais para socorrer as pequenas empresas, com a concessão de financiamentos e créditos por meio do Pronampe. “Porque os bancos privados têm horror a qualquer tipo de risco”.

O economista e diretor do Recontaí, Sérgio Mendonça, avaliou que são a Caixa e o Banco do Brasil, maiores bancos públicos do país, que investem nas regiões menos desenvolvidas, na população de baixa e média renda. Também são os responsáveis por operar as grandes políticas sociais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e programas de agricultura familiar. “Eles alavancam o orçamento público com eficiência e fazem mais com menos recursos do orçamento”.

Ataques e privatização – Os participantes analisaram que é justamente neste momento, quando confirmam sua força para o país, os bancos públicos sofrem os maiores ataques do governo. O presidente Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, querem reduzir o papel do Estado para privilegiar o mercado privado. Esta é a análise do secretário-geral da Contraf/CUT, Gustavo Tabatinga. “O governo Bolsonaro só tem uma meta: transformar o país em um grande celeiro onde pessoas subescravizadas devem trabalhar para gerar e mandar recursos do Brasil para o grande capital internacional”, destacou.

A coordenadora da Comissão Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa), Fabiana Proscholdt, falou sobre as sucessivas tentativas de privatização da Caixa. “No ano passado o governo e a direção do banco tentaram fatiar a empresa de várias formas por meio da seguridade – e o processo de abertura de capital foi retomado neste mês-, dos cartões e, agora, a privatização do banco digital. A Caixa está sofrendo muitos ataques”, ressaltou.

Para a representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa (CA/Caixa), Rita Serrano, o banco digital é um avanço tecnológico que promoveu a bancarização de milhões de brasileiros. O trabalho foi realizado pelos empregados, que se superaram mesmo submetidos ao risco de contágio nas agências.

“No momento em que a Caixa chega no seu auge como instituição pública, se destaca ao assumir o seu papel social de forma plena e inova em tecnologia com o banco digital, o governo e a direção da Caixa jogam este patrimônio público para outra instituição financeira para privatizar futuramente. É uma contradição. Um absurdo”, destacou.

Com o Banco do Brasil não é diferente. Recentemente a direção do Banco do Brasil anunciou uma grande reestruturação que vai tirar o emprego de 5 mil trabalhadores por meio de um programa de desligamento. A reestruturação também prevê o fechamento de 361 agências e outras 241 serão transformadas em postos de atendimento avançado, que não se comparam com a estrutura das agências, informou o coordenador da CEE/BB, João Fukunaga.

O fechamento das agências vai causar um enorme prejuízo para a população das regiões mais carentes, que precisa dos benefícios sociais operados pelos bancos públicos, considerou a presidenta do Sindicato dos bancários de São Paulo, Ivone Silva. “O projeto deste governo é fechar cada vez mais agências, diminuir os bancos públicos que fazem esse papel, porque os bancos privados não fazem. Observamos que nesses municípios só tem agência da Caixa ou do Banco do Brasil. Não tem agência dos privados como Bradesco, Itaú ou Santander – eles só estão nas grandes cidades que os interessam”.

Desmonte dos públicos para beneficiar os privados

A diretora de políticas sociais da Fenae, Rachel Weber, apresentou dados que confirmam o desmonte do setor público para beneficiar o mercado privado. Entre 2014 e 2020, o movimento de queda no emprego foi mais intenso na Caixa e no Banco do Brasil. Neste período, a Caixa perdeu 16,9% dos empregados e o Banco do Brasil perdeu 17,5% do seu quadro. Já no privado Itaú, a queda foi de 5,1% e no Santander, 8,4%. No Bradesco houve um acréscimo de 0,4%.

Outro dado apresentado por Rachel Weber é a comparação do lucro líquido dos bancos públicos no período entre 2015 e 2019. Em 2015, correspondia a 27,3%; em 2019, 35,2%. Rachel explica que este dado não é positivo para as instituições públicas. “Este aumento reflete justamente os desinvestimentos dos bancos, a venda de seus ativos. A gente vê este desmonte dos bancos públicos com bastante clareza”.

Os ativos dos bancos públicos diminuíram de 45,1% em 2015 para 39,7% em 2019. Já os bancos privados aumentaram seus ativos. De 37, 9 em 2015 passaram para 44,0%.

Mais oficinas  no FSM 2021

Em razão da pandemia, o Fórum Social Mundial deste ano foi realizado virtualmente. Além dos participantes citados, o debate contou com a presença da representante dos funcionários do Banco do Brasil (Caref), Débora Fonseca, e do presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Kleytton Morais. O debate foi intermediado pelo diretor da Fenae e do Seeb/SP, Dionísio Reis. As entidades vão realizar outras oficinas nesta sexta-feira (29). Confira aqui. 

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