Anos depois, a Siderúrgica conta com menos da metade da quantidade de funcionários

A luta contra a privatização da Caixa não defende apenas seus empregados, mas todo o povo brasileiro. Como banco de grande porte e linha de frente no desenvolvimento do país, a Caixa é um importante patrimônio nacional de valor estratégico. Esse pensamento esteve também por trás da criação da Companhia Vale do Rio Doce e da Siderúrgica Nacional.

A criação das duas estatais – Siderúrgica em 1941 e Vale em 1942 – ainda hoje é tida como um dos maiores feitos de Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, um marco na história nacional, ação fundamental para o desenvolvimento do país e sua soberania.
A Siderúrgica chegou a ter cerca de 25 mil trabalhadores diretos. Até então, a indústria brasileira não estava capacitada para fornecer produtos pesados, tais como trilhos e chapas de aço para ferrovias, estaleiros e construtoras.

Em 1992 foi incluída no plano de privatizações do governo Collor, o que foi concretizado no ano seguinte, com Itamar Franco.
Além da perda do patrimônio nacional, a venda trouxe momentos sombrios para seus trabalhadores. No estudo realizado pelo doutor em administração Eduardo de Camargo Oliva  – “A privatização de empresas siderúrgicas brasileiras: reflexos na gestão de recursos humanos” -, que inclui também privatizações da Usiminas, Cosipa e CST, é possível conhecer esta história.

Oliva afirma que na fase de preparação para a venda não houve preocupação com a requalificação ou orientação dos trabalhadores que seriam desligados. “A ação sindical nesta fase era intensa, mas não foi possível impedir que as demissões ocorressem”, ressalta.
Hoje, a Siderúrgica conta com menos da metade de funcionários que teve em seu auge.

Vale – O início do processo de privatização da Vale ocorreu em 1997, no governo FHC. A estatal era a principal no ramo de mineração e infraestrutura. Em seu leilão foi vendida por R$ 3,3 bilhões, quando, na época, apenas as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bi.

Seu controle acionário passou para um consórcio que se formou pela associação de fundos federais de pensão, à frente, o Previ (funcionários do Banco do Brasil)  com o Bradesco (que montou o edital de venda, o que muitos apontam como motivo pelo qual não poderia se tornar controlador), a japonesa Mitsui e uma subsidiaria do BNDES, a BNDESpar.

Em junho de 2017, uma assembleia extraordinária da empresa decidiu privatizá-la de vez. Com novas regras, acabou-se o hibridismo de uma empresa privada na qual o governo continuava a participar. Agora, o controle passa principalmente para as mãos de investidores estrangeiros, em sua maioria chineses.

Este processo é lamentado até hoje. Em artigo que lembra os 20 anos da privatização da Vale, o escritor Pedro Carrano aponta que a conduta da empresa após a venda tem sido de “atropelo da legislação trabalhista e aumento das práticas antissindicais; exportação com alto consumo de energia e nenhum beneficiamento dos produtos; e intensificação da produção voltada para fora, o que causa rápido esgotamento das reservas minerais e impactos no meio ambiente. O caso da lama da Samarco dispensa apresentações”, conclui.

Em ambos os casos, os defensores das privatizações costumam reforçar os números de lucro crescente destas companhias pós-venda. Mas o tema não pode ser tratado de forma tão simples, ignorando os trabalhadores e a soberania nacional. Por mais que continuem gerando empregos, é patrimônio nacional nas mãos de outros países. E isso inclui a forma com que os empregados dessas companhias são tratados hoje.

É mais um exemplo do que pode ocorrer com a Caixa, caso sua privatização seja levada a cabo por Temer e seus aliados.

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