Uma pesquisa nacional realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com base em notícias da imprensa e apoio técnico do Dieese, revelou que apenas no primeiro semestre de 2014, ocorreram 32 mortes resultantes de assaltos envolvendo bancos. A média é de 5,33 vítimas fatais por mês, o que represente um aumento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2013, quando foram registradas 30 mortes.
Desde 2011, o crescimento foi de 39,1% e em todo o ano passado ocorreram 65 mortes.

O levantamento, lançado na última quinta-feira, dia 31, mostra também que o estado de São Paulo lidera a pesquisa, com 12 mortes, o que representa 38,7% dos casos. Em seguida vem Rio de Janeiro (4), Pernambuco (3), Minas Gerais (2), Paraná (2), Goiás (2) e Paraíba (2).
O crime da "saidinha de banco" aumentou ainda mais a liderança entre os tipos de ocorrências, tendo provocado 20 mortes, o que representa 62,5% dos casos. O assalto a correspondentes bancários segue em segundo lugar, agora ao lado dos ataques a caixas eletrônicos, ambos com 4 mortes, o que significa 12,5% das vítimas fatais. Depois, vem mortes em assaltos a agências (3) e transporte de valores (1).
Houve aumento também os casos cujos clientes consistem nas maiores vítimas. Do total, 22 pessoas eram clientes, o que significa 68,8% dos assassinatos. Em seguida vêm policiais (2), vigilante (1) e outras pessoas (7), muitas vítimas de balas perdidas em tiroteios.
A pesquisa também revela a faixa etária das vítimas, quase sempre identificada nas notícias da imprensa. Pela primeira vez, as pessoas com mais de 60 anos foram as principais vítimas, com 10 mortes, o que representa 31,3% dos casos. Em segundo lugar vem a faixa entre 31 a 40 anos com 9 mortes (28,1%), seguida pela faixa até 30 anos, com 6 mortes (18,8%).
Já o gênero das vítimas continua sendo liderado pelos homens (29), o que representa 90,6% dos casos. Também foram assassinadas três mulheres (9,4%).
Escassez de investimentos dos bancos
Para a Contraf-CUT e a CNTV, essas mortes revelam a escassez de investimentos dos bancos para melhorar a segurança dos estabelecimentos e garantir um atendimento seguro para os clientes e a população.
Segundo dados do Dieese, os seis maiores bancos (Itaú, BB, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) apresentaram lucros de R$ 56,7 bilhões em 2013. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 3,4 bilhões, o que significa 6%, em média, na comparação com os lucros.
Como se não bastasse, os bancos vivem descumprindo a lei federal nº 7.102/83, que tem mais de 30 anos e se encontra defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade. No primeiro semestre deste ano, a Polícia Federal aplicou multas contra 15 bancos, no total de R$ 5,585 milhões, durante as reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP), em Brasília.
Para Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT, os dados são preocupantes, pois comprovam o descaso e a indiferença dos bancos com a prevenção de assaltos. "A segurança é encarada pelos bancos como custo que pode ser reduzido para turbinar ainda mais os seus lucros", explica.
Perigo da "saidinha de banco"
O crescimento das mortes em "saidinha de banco" não surpreende a Contraf-CUT e a CNTV, pois para preveni-lo é preciso impedir a ação dos olheiros na hora do saque dos clientes. Uma das medidas é a instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, além de divisórias individualizadas entre os caixas.
"O biombo é uma das medidas testadas e aprovadas no projeto-piloto de segurança bancária, que está terminando este mês em Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Queremos que seja estendido para todo o país, a fim de ajudar a combater a ‘saidinha de banco’ e evitar novas mortes", aponta Cordeiro.
Outra medida defendida por bancários e vigilantes é a isenção de tarifas de transferência de recursos (DOC, TED), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça. A proibição do uso do células nos bancos é uma medida considerada ingênua, pois não impede a visualização dos saques.
Insegurança nos correspondentes bancários
A disparada das mortes em assaltos a correspondentes bancários (lotéricas, banco postal, lojas e outros estabelecimentos) e em ataques a caixas eletrônicos também não surpreende a Contraf-CUT e a CNTV.
Os bancos têm elitizado os serviços e empurrado cada vez mais os clientes de baixa renda para os corresponder, onde a segurança é mínima.
O presidente da CNTV, José Boaventura Santos, enfatiza que muitos caixas eletrônicos estão instalados em locais inseguros.
"Queremos igualdade de atendimento para toda a população, com agências e postos de serviços, onde têm bancários e vigilantes, possibilitando um atendimento com qualidade e segurança para clientes e usuários, prevenindo assaltos e protegendo o sigilo bancário e, acima de tudo, a vida das pessoas", defende Cordeiro.
A vida acima do lucro
Vigilantes e bancários apontam outras soluções de segurança que já salvaram muitas vidas em todo país, como a colocação de portas de segurança com detectores de metais antes do autoatendimento, câmeras internas e externas com boa resolução de imagens e monitoramento em tempo real, escudos com assento para vigilantes e vidros blindados nas fachadas, por exemplo.
"Os bancos e as autoridades de segurança pública têm que tomar providências para evitar novas tragédias, que acabam com o futuro de inúmeras famílias em todo país", alerta Cordeiro. "O atendimento bancário é atividade de risco. Os bancos têm que assumir a sua responsabilidade para proteger a vida das pessoas", enfatiza Carlos Cordeiro. "A vida tem que ser colocada acima do lucro", conclui.
Fonte: Contraf-CUT

 

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