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No painel Em defesa da Democracia – Ditadura Nunca Mais, incluído na Conferência Nacional dos Bancários, o contou-se com a presença do deputado estadual paulista Adriano Diogo (PT-SP), o presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de SP, e a jornalista e ex-presa política Rose Nogueira, coordenadora do Grupo Tortura Nunca Mais. O debate teve como propósito discutir os efeitos do golpe militar de 1964, que neste ano completou 50 anos.

Para Rose Nogueira, presa em 1969 um mês depois de dar à luz ao único filho, o golpe de 1964 resultou em um atraso histórico no país e que até hoje o povo brasileiro sofre as consequências daquele período.

Ela destacou os prejuízos nos campos social, econômico e ambiental como heranças da ditadura e os privilégios concedidos pelo regime ao empresariado. "O regime militar aprofundou a miséria no Brasil. A Transamazônica, por exemplo, promoveu um genocídio dos índios e um dos maiores desmatamentos da história com o objetivo de abrir campo para o gado."

Ao falar de sua experiência com a prisão e a tortura, a palestrante emocionou a plateia e foi aplaudida de pé. "Eu tinha 18 anos quando foi deflagrado o golpe. Fui presa em 1969. O delegado Sérgio Fleury ameaçou levar meu filho de um mês de idade. A tortura era uma política de Estado. Após ter meu filho, sangrava e não podia sequer tomar banho. Cheirava a sangue e leite azedo. Tive sequelas. Fui esterilizada. Sonhava em ter muitos filhos… Ditadura e tortura, nunca mais", concluiu.

O presidente da Comissão da Verdade de São Paulo, Adriano Diogo denunciou o papel das empresas no golpe militar de 1964 e o apoio do empresariado brasileiro à ditadura militar. "O golpe foi na verdade civil-militar, mais especificamente um golpe empresarial militar, já que empresas automobilísticas, de comunicação e bancos, entre outras, ajudaram com dinheiro ou logística o regime de repressão que se implantou no país em 1964."

Ao afirmar isso, Diogo fez um paralelo com a atitude do Santander, divulgada nesta sexta-feira 25 pela imprensa, que ele classificou como uma tentativa de interferir nas eleições presidenciais de outubro, no país. "Há 50 anos, as multinacionais também interferiram na história do Brasil."

O deputado apresentou trechos do documentário nacional Cidadão Boilesen (2009), que aborda o papel desempenhado pelo empresário Heinning Boilesen na arrecadação de recursos empresariais para a criação e fortalecimento da Operação Bandeirantes (Oban), centro de prisão e tortura montado pelo Exército em 1969, que coordenava ações dos órgãos de combate à luta de esquerda.

A importância do terceiro painel do evento pode ser definida pelas palavras finais da jornalista Rose Nogueira: "Temos de conhecer essa história, e nossos filhos e nossos netos têm de aprender na escola o que aconteceu no Brasil depois com o golpe de 1964".

Fonte: Rede de Comunicação dos Bancários
 

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