A representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, avalia que a atuação de entidades como a Fenae tem sido fundamental para cobrar o banco a adotar medidas de proteção aos trabalhadores, clientes e usuários, em meio à pandemia de coronavírus. Ela considera, no entanto, ser preciso avançar mais. Confira a entrevista.

Que medidas a Caixa está adotando para ampliar a rede de proteção aos empregados na prevenção ao coronavírus?
Rita –Depois de grande pressão das entidades e do nosso mandato, na condição de representante dos empregados no Conselho de Administração, o banco anunciou uma série de medidas. Com o objetivo de diminuir riscos para empregados, terceirizados, clientes e usuários, a Caixa restringiu a partir desta semana o horário de atendimento ao público, que será das 10h às 14h.

Todos os empregados do grupo de risco foram liberados e, nas agências, o propósito é ficar com contingente mínimo de 30% trabalhando, com horário intercalado e em sistema de rodízio. Nas áreas internas isso já estava acontecendo. Foi solicitado também que os mecanismos de proteção, como álcool gel, máscaras, limpeza, sejam disseminados.

Existe ainda muita confusão nas unidades e venho tentando ajudar, encaminhando à direção do banco as solicitações e questionamentos que chegam. Também já visitei algumas agências de São Paulo para fiscalizar a adoção das novas medidas.

Em todo o Brasil há relatos de agências lotadas e filas expressivas. Qual deve ser, na sua opinião, a diretriz adequada de atendimento nas unidades?

Rita – Em primeiro lugar, as agências começaram a ficar abarrotadas depois que o governo, de forma irresponsável, anunciou o pagamento de R$ 200 para trabalhadores desempregados e informais, sem que a ação estivesse legalizada e operacionalizada, o que não aconteceu até o momento. Além de o valor ser irrisório para garantir a sobrevivência das pessoas fragilizadas nesse período, ainda colocou todos sob risco.

A determinação da direção do banco é de que só sejam feitos atendimentos de casos emergenciais, principalmente os vinculados a benefícios sociais que não possam acontecer nos caixas eletrônicos e nos canais digitais. É preciso reforçar campanha de mídia, orientando e direcionando a população para os canais alternativos.

Qual tem sido o peso da atuação da Fenae e de outras entidades representativas na cobrança de ações para assegurar a saúde dos trabalhadores?

Rita – A Caixa foi o primeiro banco a adotar essas diretrizes de proteção até agora, e uma das razões é justamente o fato de contar com a Fenae, com entidades associativas e sindicais organizadas. Os empregados, assim como toda a sociedade, estão com medo e desejam ficar em casa, seguindo orientação do próprio governo. Não descarto que essa possiblidade ocorra, mas o papel público da instituição acaba obrigando-nos a olhar para os que estão desamparados e que dependem de recursos escassos para sobreviver, e esses passam pela Caixa.

Como você avalia a situação de quem está trabalhando?

Rita – Os sindicatos cobram que todo o sistema financeiro restrinja drasticamente o trabalho e o atendimento bancário. Há muita pressão da categoria para que isso aconteça.

Cabe aos órgãos públicos buscar soluções rápidas para ampliar a segurança de todos os trabalhadores que não conseguem fazer a quarentena, empregados de supermercados, farmácias, carteiros, entregadores, garis e tantos outros. Cabe também a cada um dos cidadãos a solidariedade, o cuidado e o respeito para com essas pessoas, que se arriscam para garantir um mínimo de conforto social.

Agora, o que não se pode aceitar de forma alguma é o governo propondo, por intermédio de Medida Provisória, que as empresas cortem os salários. Foi obrigado a recuar, dada a comoção social, mas é absurdo, desumano, não apresentar nenhum projeto para minimizar os efeitos da crise e ainda ameaçar deixar os trabalhadores à míngua.

Qual o papel da Caixa neste momento do Brasil?

Rita – A crise mostrou a contradição na política privatista do governo, que contava com apoio irrestrito da grande imprensa, empresários e parlamentares. Agora todos falam da importância do SUS, dos laboratórios e universidades públicas, que estavam sendo sucateados.

Até os liberais mais radicais se arvoram nos meios de comunicação defendendo que o Estado faça investimentos, que não espere o setor privado. O governo cogita até salvar empresas com recursos públicos. Enfim, o ícone de Estado mínimo foi para o brejo e está evidente, no Brasil e no mundo, que sem Estado organizado e governos responsáveis não é possível superar o vírus e em seguida a crise econômica mundial.

A direção da Caixa vem anunciando uma série de medidas de investimentos, como corte nos juros e ampliação do crédito. Avalio que o caminho está correto, mas é possível ir além, com a ousadia que a realidade exige, e uma das ações rápidas, poderia ser no setor de habitação e saneamento, grande gerador de emprego e crescimento.

A sociedade precisa exigir também que o sistema financeiro privado, campeão de lucros no Brasil, dê sua contribuição, realizando investimentos que gerem renda e emprego para os brasileiros, não só dividendos milionários para seus acionistas.

Que mensagem você deixa aos empregados diante de uma realidade de intensa vulnerabilidade?

Rita – Essa situação é ímpar na história, mas se todos os cuidados forem tomados, venceremos juntos a guerra contra o coronavírus.

O interessante de vivermos algo tão difícil, é que podemos repensar nossa prática de vida. O vírus é democrático, mas a realidade é seletiva, muitos não têm recursos para sobreviver em uma quarentena, muitos não têm casa, emprego, abrigo, família. Valores como a solidariedade, empatia e resiliência devem permear esse momento, para que saiamos dele seres humanos melhores.

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