Vasp amargou decadência depois da venda, em 1990, que culminou na falência em 2005

Nas últimas semanas, a APCEF/SP publicou uma série de reportagens especiais sobre as privatizações ocorridas no país. Divididas por setor, as matérias mostraram como o processo ocorreu e as consequências para os empregados das estatais e o povo brasileiro. As áreas abordadas foram: bancos, telecomunicações, siderurgia e mineração e energia. Não podemos deixar de falar também do transporte.
Praticamente toda a malha ferroviária do país foi privatizada entre 1996 e 1999. Com a justificativa de melhorar a segurança e o volume de transporte de cargas, os passageiros foram excluídos dos trens de longa distância no Brasil.

A Viação Aérea São Paulo (Vasp) é outra empresa a fazer parte desta história. Nascida na iniciativa privada em 1933, foi estatizada em 1935, tornando-se pioneira da aviação comercial no país. Foi a primeira a oferecer viagens entre Rio de Janeiro e São Paulo e a trazer aviões Boeing para o Brasil.

No entanto, acabou vendida em 1990 para amargar uma triste decadência que culminou em sua falência em 2005. Além de ficarem sem emprego, seus funcionários só começaram a receber ressarcimentos em setembro de 2015. Em 1994 foi a vez da Embraer ser leiloada.
Recordar estas histórias é essencial para entender os riscos que os empregados da Caixa e de outras empresas públicas amea- çadas estão correndo. Fica claro que a privatização é um processo traumático para os trabalhadores. Em todos os casos, há perda de direitos, falta de informação, transparência e diálogo. Em sua maioria, o quadro de funcionários é drasticamente reduzido e os poucos que conseguem se manter passam a enfrentar dificuldades dentro da empresa. Não raro, essas companhias passam a apresentar práticas antissindicais.
Frequentemente, as privatizações são defendidas em razão do crescimento do lucro das empresas, lucro que muitas vezes possui dono estrangeiro. Mas, não se deve ignorar os motivos pelos quais estas companhias foram criadas. Nascidas com dinheiro público, são patrimônio do povo brasileiro e possuem papel estratégico no desenvolvimento do país.

Até o início do século XX, o Brasil era frágil refém da vontade de outros países por não produzir insumos básicos e não ter indústria desenvolvida, essenciais para a soberania nacional. Durante a Era Vargas (1930-1945/1950-1954) é que a política finalmente mirou o crescimento e foram criadas a maioria das empresas públicas (Vale, Siderúrgica Nacional, Petrobras).

Junto com a organização do espaço industrial promovida por Juscelino Kubitschek (1956-1961), esse processo foi responsável por um verdadeiro salto de desenvolvimento no Brasil. Isso não representou uma simples melhora na economia, mas transformou o acesso a bens, serviços, educação, saúde, trabalho, cultura e lazer.

No entanto, o pensamento liberal que tomou conta do governo a partir de Fernando Collor (1990-1992) fez com que muitos acreditassem que já não era necessário o estado controlar alguns setores da economia e que estas empresas apresentam problemas demais. A solução, em vez de mudar a política de gestão, foi vender as companhias. Com isso, vimos aprofundar as desigualdades sociais e tornar o Brasil ainda mais dependente.

Este período não deixou saudades. Agora, o governo Temer está empenhado em radicalizar a política de Estado mínimo, iniciada na década de 90. E é por isso que Caixa, Banco do Brasil, BNDES, Correios e Petrobras estão cada vez mais ameaçados.

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