A década de 90 foi difícil para os bancários da Caixa e do Banco do Brasil. Isso porque os bancos públicos estavam na mira do programa nacional de desestatizações, implementado pela gestão neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que ocupou a Presidência da República entre 1995 e 2002. Felizmente, não houve tempo para concluir o projeto.

Anos 90 – Os presidentes do banco alteraram as estruturas das agências e priorizaram o autoatendimento. Segregou-se a área social e, em algumas unidades, colocou-se o atendimento social, literalmente, na garagem. Os envelopes deixados nas máquinas passaram a ser manuseados por trabalhadores contratados por empresas locadoras de mão de obra.

O número de caixas executivos foi reduzido (caixa-flutuante). Criou-se o RH 008 para demissão imotivada. Houve concurso público em 1998, mas os novos empregados receberam tratamento diferenciado, sem direito a licenças, salários menores, plano de saúde e de aposentadoria inferiores. Criou-se uma nova forma de pagar os salários dos gerente, o GTAG. No caso de afastamento ou aposentadoria, passou a valer apenas o salário-base, sem o complemento.

Em 1998 foi a vez de mexer no plano de previdência. Em 2000 foi implementada a segmentação, cujo principal objetivo era reduzir os custos de mão de obra e adequar a área comercial ao modelo privado.

Em 2001 foi anunciado o fim das áreas-meio. Os empregados, cerca de 20 mil, tiveram de achar vagas em agências ou Escritórios de Negócios. Na mesma época foi lançado um Programa de Apoio à Demissão Voluntária. Foi nesse período também que surgiu a ideia de se livrar da “massa velha” de trabalhadores da Caixa, aqueles empregados com mais tempo de casa e que “custavam” mais para o banco.

Em 2000, a Caixa possuía 53 mil empregados concursados e 51 mil terceirizados.

Qualquer semelhança não é mera coincidência – A fórmula usada pelo governo neoliberal naquela época não é muito diferente do que está acontecendo. Tornar péssimas as condições de trabalho, impor metas abusivas e provocar esgotamento e afastamentos, forçar a extrapolação constante da jornada, fazer com que a população fique insatisfeita com os serviços oferecidos, retomar a terceirização, reduzir o número de empregados com programas de demissão, não realizar concursos públicos, criar reestruturações, acabar com departamentos… “Alguns empregados podem até achar que essas mudanças não irão atingi-los, mas é preciso ter ciência de que o desmonte do banco não será bom para ninguém”, alertou Kardec de Jesus Bezerra.

Como matar uma estatal – Em 1990, Herbert de Souza, o Betinho, escreveu um artigo intitulado “Como matar uma estatal”, antecipando a grande onda de privatizações levada a cabo pelos governos Collor e FHC. A trajetória recente da Caixa indica que o atual governo retomou a tentativa de aplicar a receita fatal.

Baseada neste artigo, a APCEF/SP irá publicar uma série de matérias sobre as mudanças que estão sendo implementadas na Caixa. “Nossa intenção é comparar os processos e mobilizar os empregados. Vamos nos unir e resistir a mais esse ataque”, convocou o diretor-presidente da APCEF/SP.

>> Leia e assista aos vídeos de todas as matérias da série: 1. Governo retoma projeto dos anos 90 e prepara banco para privatização, 2. Governo não quer melhorar as condições de trabalho na Caixa, 3. Esteja convencido de que metas abusivas são práticas de mercado, 4. É normal que os empregados fiquem doentes, esgotados e estressados, 5. Pode acreditar, terceirização é algo positivo para você!, 6. É certo que o processo de verticalização jamais irá atingi-lo, 7. Reforma trabalhista não irá impactar nos direitos dos empregados da Caixa e 8. Onde o governo quer chegar com o processo de desmonte do banco

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