A
Jorge Eduardo Levi Mattoso
Presidente da Caixa Econômica Federal

Senhor presidente,

Foi distribuída hoje, 30 de setembro, uma mensagem cuja autoria lhe foi atribuída. Nessa mensagem determina-se a “cada gestor a imediata convocação dos empregados para cumprimento da decisão da Justiça do Trabalho, garantindo a abertura e funcionamento de todas as unidades” e informa-se, também, que “a Caixa está registrando os dias de paralisação como falta injustificada”.
As decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRT/São Paulo, Ceará e Paraíba), ao que se informa, são dirigidas a sindicatos de bancários para que se garanta a abertura de unidades e o atendimento. Fala-se lá em porcentuais – 60%, 40%, 30% -, enfim. Em sua ordem, não se especifica se serão convocados empregados até esse limite ou se todos os empregados. Se todos, estaria sendo extrapolada a ordem judicial. Se alguns, há de se avaliar se os que hoje trabalham não atenderiam à determinação ou se a empresa elaborará uma lista dos que podem ou não estar em greve.
Por outro lado, se as ordens são para sindicatos, por que foram elas dirigidas aos empregados? Se na hipótese de não-cumprimento da determinação judicial está estabelecida multa de responsabilidade dos sindicatos envolvidos, por que a ameaça de falta injustificada e, veladamente, demissões?
Infelizmente, demissões não seriam surpresa para nós. Já enfrentamos vários processos assim: governo Collor, em 1990, com Lafaiete Coutinho – a reintegração foi em 1990, ainda; governo Collor, Álvaro Mendonça, em 1991 – a reintegração foi em 1992, logo após o impeachment (aliás, uma das primeiras medidas do governo Itamar Franco, que reconheceu o caráter político das demissões); governo Fernando Henrique, com Carazzai, Costabile e Cia., com a RH 008, com muitas e muitas demissões de militantes do movimento sindical retaliados por suas posturas – ainda não as revertemos, embora passados dois anos de sua gestão, mas vamos continuar lutando.
Bem, nesses governos não enfrentamos só demissões. Lutamos contra suas políticas, realizamos campanhas e procuramos traduzir um projeto diferente.
Esse projeto foi vitorioso.
Nós não confundimos papéis, nem imaginamos que a luta sindical acabaria, até porque entidades e trabalhadores não são governo. Mas acreditávamos que a dinâmica seria diferente.
Talvez tenha sido ingenuidade imaginar que o senhor fazia parte desse projeto, ao menos é o que nos parecia.
Mas, por essas atitudes – ou pela falta delas, como aqui exemplificamos – parece-nos agora que o projeto que defendemos há pelo menos duas décadas não é o que o senhor aplica.
É difícil ver que o senhor mantém ao seu lado, sob as mais diversas desculpas, pessoas que defenderam o tempo inteiro o modelo superado, que entre outras iniciativas dirigia a Caixa para a privatização e, ao mesmo tempo, não têm o mínimo pudor em ameaçar empregados por conta do conflito trabalhista!
Dizem que a história de direita e esquerda acabou. Mas é curioso como se comenta na Caixa que a direita, agora, tomou conta novamente.
Não faremos, aqui, nenhum apelo.
Entenda essa manifestação como um desabafo para nós e para reflexão de quem quiser, talvez até por conta de nossa ingenuidade de trabalhadores e militantes.
Continuaremos lutando, apenas isso.

APCEF São Paulo – APCEF Ceará – APCEF Paraíba

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