Uma história de resistência marcada pela solidariedade, e protagonizada por 110 empregados Caixa há 28 anos, será tema de um longa-metragem dirigido pela premiada cineasta Maria Augusta Ramos – de “O Processo”. A mobilização dos trabalhadores do banco público aconteceu em 1991, quando 110 empregados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná foram demitidos por razões políticas. Na ocasião, toda a categoria se organizou para amparar financeiramente os demitidos e reintegrá-los ao trabalho.

Para Maria Augusta Ramos, a narrativa de solidariedade sem precedentes da classe trabalhadora foi o que motivou o longa-metragem. “Esse documentário traz uma história que precisava ser contada e registrada, pois é um retrato importante de um momento da história brasileira. Ao mesmo tempo, permite uma maior compreensão do momento atual e uma reflexão sobre esse retorno de uma política que projeta o corte de direitos trabalhistas e a privatização de empresas estatais”, considerou a cineasta.

Neste final de semana (21 e 22/09), foram gravadas as primeiras entrevistas sobre a demissão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, na gestão do então presidente Fernando Collor de Mello.

Em Londrina, cerca de 15 empregados exonerados àquela época, gravaram relatos para o documentário e se emocionaram ao relembrar o cenário de desalento, principalmente pela mobilização e solidariedade entre os empregados Caixa que lutaram pela reintegração dos colegas. Outras cenas e depoimentos serão gravados também em Belo Horizonte e São Paulo.

A coordenação do trabalho é da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), presidida por Jair Pedro Ferreira.

As demissões aconteceram durante governo Collor, que foi eleito e tratado como um jovem fenômeno, apresentado nacionalmente como caçador de “marajás” e que tinha como missão modernizar e moralizar a máquina pública. Ao tomar posse, demite 2.650 recém-contratados da Caixa Econômica.

O mote da campanha abraçada pelos empregados foi Readmitir para não destruir a Caixa – um banco social.  O movimento se caracterizou pelo processo de luta pela reintegração se tornou item da pauta de reivindicações da campanha salarial de 1990.

Em 1991, em meio a uma greve, outros 110 são demitidos, alguns com mais de nove anos de casa, sem que houvesse provas de realização de piquetes violentos e sem abertura de processo administrativo, como exigia o regulamento.

O documentário pretende relembrar e documentar os meses que se seguiram à decisão arbitrária do então presidente Collor, até a reversão judicial quase dois anos depois. É o registro de uma história de solidariedade, contada a partir dos relatos de trabalhadores diretamente envolvidos nessa luta, trazendo-a para o contexto atual, quando um novo projeto de redução da máquina pública baseada na supressão de direitos começa a ter lugar.

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