Aconteceu ontem, em São Paulo, a primeira rodada de negociação da campanha salarial unificada. Na discussão foi colocado para os bancos, a necessidade de atrelar o tema saúde e condições de trabalho com o problema das metas abusivas. A questão das metas abusivas foi apontada por dois terços dos bancários como sendo, atualmente, o principal problema dos bancos, de acordo pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) entre os meses de maio e julho.

Foi explicitado à Fenaban, a contradição entre o discurso voltado para a “gestão de pessoas”, no entanto, o que se observa é a “gestão do lucro” a despeito das condições de trabalho dos empregados. De acordo com Carlos Cordeiro, presidente da Contraf/CUT e coordenador do Comando Nacional são as metas abusivas que incentivam o assédio moral. “As metas são as principais responsáveis pela epidemia de adoecimentos que existe hoje na categoria, pelo uso crescente de remédios tarja preta, pelo sofrimento e até pelas mortes que já começam a ocorrer", afirmou.

Dados do INSS revelam que 21.144 bancários foram afastados do trabalho por adoecimento, dos quais 25,7% com estresse, depressão, síndrome de pânico, transtornos mentais relacionados diretamente ao trabalho. Outros 27% se afastaram em razão de Lesões por Esforços Repetitivos (LER/Dort). Nos primeiros três meses deste ano, 4.387 bancários já haviam se afastado por adoecimento, sendo 25,8% por transtornos mentais e 25,4% por LER/Dort.

A recente consulta nacional da Contraf/CUT e da Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) apontou que 18% dos que responderam declararam ter se afastado do trabalho por motivos de doença nos 12 meses anteriores e 19% disseram usar medicação controlada. No quesito problemas de saúde, 66,4% dos bancários responderam na mesma consulta que as metas abusivas são o mais grave problema enfrentado hoje pela categoria. Outros 58,2% pedem o combate ao assédio moral, enquanto 27,4% assinalaram a falta de segurança contra assaltos e sequestros.

O Comando Nacional apresentou proposta de estabelecer que os bancos garantam a participação de todos os seus trabalhadores na estipulação de metas e respectivos mecanismos de aferição, sendo obrigatoriamente de caráter coletivo e não individual, e definidas por departamentos e agências. A proposta prevê ainda que se leve em consideração o porte da unidade, a região de localização, o número de bancários, a carteira de clientes, o perfil econômico local, a abordagem e o tempo de execução das tarefas.

Os bancários reivindicam ainda o fim da cobrança diária das metas e que elas deixem de ser mensais e passem a ser semestrais. A Contraf/CUT avalia que o problema não é a meta em si, mas a gestão das metas, o que envolve a organização do trabalho.

Em resposta a essas reivindicações, os negociadores da Fenaban, no entanto, alegaram que as metas seguem orientações técnicas universais para que sejam eficientes e que não é possível os sindicatos discutirem o modelo de gestão, pois é estratégico para cada banco.

O Comando ainda denunciou que a cláusula 35ª da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que proíbe a exposição do ranking individual dos funcionários, está sendo descumprida pelos bancos. A Fenaban se comprometeu a verificar a situação, a fim de que os rankings não sejam mais tornados públicos.
 

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