Por Humberto Pires Grault Vianna de Lima –
assessor econômico da APCEF/SP

A Caixa apresentou lucro líquido de R$ 1.715.566 mil no 1º semestre do corrente ano, apontando crescimento de 27,65% sobre o mesmo período do ano anterior. A rentabilidade líquida, relação entre o lucro líquido e o patrimônio líquido, totaliza 16,3%.
As receitas da intermediação financeira perfazem R$ 14.605.995 mil e o item com maior contribuição para obtenção desse montante foi o resultado de operações com títulos e valores mobiliários na quantia de R$ 8.072.551 mil, ou seja, o equivalente a 55,27% do valor percebido com a atividade de intermediação financeira. A contribuição das operações de crédito para apuração dessa renda totaliza 30,96%, perfazendo a quantia de R$ 4.522.743 mil. O restante das receitas foi alcançado por meio das aplicações compulsórias, cujo ativo subjacente são títulos públicos.
Portanto, pode-se inferir que 69,41% das receitas da intermediação financeira da instituição provêm do resultado das aplicações em títulos públicos. Como corolário desta equação, temos que, com a perspectiva de queda das taxas de juros, a taxa Selic está em 11,25% ao ano, o resultado da intermediação financeira deve reduzir comprometendo a rentabilidade da instituição, bem como o custo operacional.
Com efeito, no período a composição da carteira de títulos públicos da Caixa salta de R$ 91.795.454 mil para R$ 123.988.415 mil, crescimento de 35,07%. Considerando o ativo total da instituição no montante de R$ 237.518.141 mil, tem-se que 52,20% deste valor é constituído por títulos públicos.
Considerando os valores residuais de contratos habitacionais encerrados, concedidos no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, a serem ressarcidos pelo FCVS e posteriormente novados pelo Tesouro Nacional por meio da emissão de títulos denominados CVS, no montante de R$ 24.426.993 mil, a participação dos títulos públicos no ativo total da Caixa alcança participação de 62,49%.
A provisão para créditos de liquidação duvidosa apresenta crescimento substancial, passando de R$ 500.802 mil para R$ 1.011.031 mil, ou seja, crescimento de 101,88% no período.
O resultado bruto da intermediação financeira, diferença entre receitas da intermediação financeira e as despesas da intermediação financeira, alcançou a soma de R$ 5.666.577 mil e apresenta variação de 4,42% sobre o mesmo período do ano anterior.
As receitas de prestação de serviços somam R$ 3.353.136 mil e apresentam crescimento de 22,11% em relação ao primeiro semestre do ano anterior. As despesas de pessoal, no montante de R$ 3.360.429 mil, apontam crescimento de 10,36% no período. Considerando a relação entre esses itens, receitas de prestação de serviços/despesas de pessoal, apuramos cobertura de 99,78%, indicando que a quase totalidade das despesas com pessoal são cobertas por estas receitas. No mesmo período do ano anterior esta relação apontava cobertura de 90,18%.
O custo operacional, medido pela relação entre: as despesas de pessoal + despesas administrativas/ resultado bruto da intermediação financeira + receitas de prestação de serviços totaliza 0,62. Este indicador mede a eficiência operacional da instituição e quanto menor, melhor este parâmetro. A título de exemplo, o custo operacional dos quatro maiores bancos por ativos são os seguintes: Banco do Brasil – 0,70, Bradesco – 0,49, Itaú – 0,49 e ABN Amro Real – 0,52.
Os números da Caixa não deixam dúvida de que a melhora desta métrica, utilizada pelo mercado para mensuração da eficiência operacional das instituições financeiras, requer alteração substancial no ativo da instituição, ou seja, a substituição dos títulos públicos por operações de crédito que, por definição, devem apresentar rentabilidade superior.
As operações de crédito totalizam R$ 51.338.560 mil e apontam crescimento de 18,34% no período, com destaque para os financiamentos imobiliários que passam de R$ 23.399.350 mil para R$ 28.916.014 mil. Quanto à concessão de crédito privado, a exceção das operações contratadas com pessoas físicas, cujo valor totaliza R$ 10.987.922 mil e excluindo-se os financiamento imobiliários, não se observa contratação significativa com os demais segmentos econômicos.
Os financiamentos de infra-estrutura e desenvolvimento, que incluem as operações de saneamento e tratamento de água e esgoto, apresentam crescimento substancial, passando de R$ 1.996.821 mil para R$ 2.910.676 mil, com variação no período de 45,77%.
Pelos números do ativo, pode-se inferir que as operações de crédito de caráter social têm prevalecido sobre àquelas de feição estritamente comercial.
Pelo lado das captações, o destaque são os depósitos de poupança, no montante de R$ 66.742.601 mil, que representam 52,34% dos depósitos totais da instituição. Os depósitos a prazo, no montante de R$ 41.832.497 mil, incluem os depósitos judiciais que totalizam R$ 29.187.487 mil.
Os números da Caixa apontam uma preponderância dos títulos públicos na composição do ativo. A queda na taxa de juros que remunera estes papéis pode comprometer a rentabilidade futura da instituição se não houver uma realocação do ativo para instrumentos de risco de crédito privado, onde o retorno esperado supera o proporcionado pelos papéis públicos.

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