O dia do cinema brasileiro é comemorado hoje, 19 de junho. A data foi estabelecida para lembrar as primeiras imagens em movimento feitas no Brasil, pelo cineasta italiano Afonso Segreto. Ele voltava da Europa e filmou a chegada à Baía de Guanabara, a bordo do navio Brésil, em 1898. As imagens foram perdidas. Há pesquisas que apontam que elas nunca existiram, mas o fato é que o cinema nacional tem dia, mês e ano de nascimento.

Mais de um século depois, o País tem uma vasta e rica história de produção nacional para contar. O cinema ganhou o público na década de 1950, com as famosas chanchadas, na qual se destacaram os inesquecíveis Grande Otelo e Oscarito. 

Nos anos 1960 nasceu aqui um dos movimentos mais inovadores e revolucionários – o Cinema Novo, que mostrou para o mundo os cineastas Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.

Na década de 1990, o cinema passou por momentos difíceis. O Governo Collor acabou com diversos programas de incentivo à cultura. Sob o pretexto de reduzir o Estado, dezenas de órgãos foram extintos e funcionários demitidos. Acabou com a Funarte e a Embrafilme e provocou a maior crise da indústria do cinema até então.

Foi nesse contexto de demissões que começou a suposta perseguição de Collor aos “marajás”. Mas o alvo acabou atingindo os empregados da Caixa, que não tinham nada de “marajás”.

Este período difícil para os trabalhadores incentivou a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) a produzir um documentário para contar esta história. Não Toque em Meu companheiro, da premiada cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos, foi lançado em fevereiro deste ano. 

O filme narra a perseguição e demissões injustas dos bancários em 1991. Durante mais de um ano, esses trabalhadores e suas famílias sobreviveram graças à união e solidariedade de colegas do banco, que se mobilizaram para amparar financeiramente os demitidos, até que fossem reintegrados à Caixa, em 1992. 

O documentário já passou por São Paulo (SP), Londrina (PR) e Belo Horizonte (BH), estados onde moravam, à época, os empregados demitidos. As exibições foram suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus.

“O documentário tem dois propósitos: contar a história dos bancários e incentivar a cultura, por meio do cinema. É uma honra para nós, da Fenae, colaborarmos para este setor essencial para o nosso País”, avalia o presidente da Federação, Sérgio Takemoto.

Reprise histórica

A história do documentário é de 1991, mas se assemelha à atualidade, quando o Governo Bolsonaro retoma as políticas de privatização das estatais e corta incentivos à indústria cinematográfica. 

Ao assumir o Executivo, uma das primeiras providências do presidente foi acabar com o Ministério da Cultura. As leis de incentivo e as linhas de financiamento, como o Fundo Setorial do Audiovisual, gerenciado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) está bloqueado até hoje.

“O desmonte que o atual governo vem fazendo na cultura, com vetos a projetos e verbas de incentivo à produção nacional, é muito perigoso para o País. Mas nosso cinema vive e é reconhecido nos principais festivais do mundo. Parabenizamos e agradecemos aos artistas que acreditam e insistem em fazer cinema no Brasil”, diz Takemoto.

Reconhecimento mundial

Ainda com toda falta de investimentos, nosso cinema é valorizado e premiado em importantes festivais. Para lembrar os mais recentes, basta observar o documentário Democracia em Vertigem (2019), da diretora Petra Costa, que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Outras produções ganham destaque e prêmio no Festival de Berlim, como o Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert. O filme Aquarius (2016), do diretor Kleber Mendonça, ganhou o principal prêmio do Festival de Sydney. Bacurau (2019), também de Mendonça, e Vida Invisível (2019), do brasileiro Karim Aïnouz, ganharam prêmios no Festival de Cannes, um dos maiores do mundo.

Para Nilson Moura, diretor sociocultural da Fenae, a produção cultural, como um todo, está prejudicada neste Governo e o cinema, especificamente, tem sido muito atacado. O diretor defende a manutenção de recursos públicos para fomentar a cultura não só para consumo mas também para produções, que gera emprego e renda para o País.

“É uma potência como indústria e as produções brasileiras têm força e muita coisa boa para mostrar, mas é preciso subsídio público para conseguir continuar”, avalia Moura.

Para Moura, o corte de verbas em cultura são atitudes típicas de governos autoritários. “Governos como o que temos agora, não têm nenhuma intenção de investir em cultura. Porque o cinema, como uma grande vertente da cultura, forma opinião crítica. E este governo não quer pessoas com consciência crítica”, opina.

 

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