O ano de 1988 ficou marcado pelos grandes processos de redemocratização do Brasil. Uma nova Constituição Federal estava sendo promulgada e a população conquistava direitos importantes que fortaleceram a democracia. No entanto, os reflexos de mais de 20 anos de ditatura militar ainda vigoravam. Foi nesse cenário que a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) fez o primeiro alerta para os desmontes das estatais brasileiras. Mais de 30 anos depois, o governo atual segue com uma agenda de desmantelamento das empresas públicas. E a Caixa, o maior banco público da América Latina, tem sido o principal alvo, mesmo com a atuação indispensável durante a pandemia da Covid-19.

A luta por mais contratações iniciou já nesse período. Dados da Fenae na época apontavam que o banco possuía um déficit de 20 mil postos de trabalho. Como resultado dessa baixa, os empregados lidavam com a sobrecarga e uma repercussão negativa sobre a qualidade do atendimento, algo parecido com os dias atuais. O país ainda enfrentava um descontrole da inflação, foi então que a Fenae ampliou as reivindicações para a reposição de perda salarial e a equiparação ao Banco do Brasil.

O então presidente Fernando Collor também colocou os olhos na Caixa. O plano Collor que confiscou a caderneta de poupança dos brasileiros teve impacto significativo na Caixa. Além disso, o presidente iniciou uma perseguição aos trabalhadores de estatais. Foi nesse momento que 110 empregados foram demitidos injustamente da Caixa em Minas Gerais, Paraná e São Paulo, em 1991. Então surgiu o movimento “Não Toque em meu companheiro”. Os empregados da Caixa se uniram em uma onda de solidariedade e doaram 0,3% de seus salários para o Fundo de Reintegração – que mantinha  os empregados e suas famílias até que o governo federal promovesse a reintegração dos trabalhadores. “Esse fundo foi fundamental para a sobrevivência das famílias nesse momento difícil e teve total apoio das Apcefs e da Fenae”, afirmou o atual presidente da Fenae, Sergio Takemoto, que na época ainda era diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Nos anos 90, com a queda de Collor e a ascensão de Itamar Franco e seu ministro da Economia, Fernando Henrique Cardoso (FHC), as agendas de privatização e enfraquecimento estatais continuaram ainda mais fortes. FHC conseguiu aval para privatizar mais de 100 empresas brasileiras – Banco do Estado de São Paulo (Banespa), Companhia Nacional de Siderurgia, Companhia da Vale do Rio Doce, são exemplos. Na tentativa de privatizar a Caixa, FHC realizou diversos Programas Demissão Voluntária (PDV) e o quadro de empregados caiu de 65 mil para 55 mil, segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Foi por meio da Fenae que, mais uma vez , os empregados se uniram na defesa da Caixa, propondo a criação do Comitê Nacional em Defesa dos Bancos Públicos. A Federação também se uniu à Frente Parlamentar Municipalista para ações direta com prefeitos e a sociedade. Em outra frente, articulou-se com a Confederação Nacional dos Bancários da Central Única dos Trabalhadores – que se tornou a Contraf-CUT – para conquistas fundamentais para os empregados, como a Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

Nas eleições de 2002, a Fenae atuou fortemente apoiando candidatos que tinham o compromisso de manter a Caixa pública, desenvolvimento social e geração de emprego e renda. Mesmo com os rumores de uma volta do confisco das poupanças, o governo de Luís Inácio Lula da Silva trouxe crescimento para o país e fortalecimento da Caixa, retomando as contratações, bandeira importante de luta da Fenae. Em 2003, a Caixa tinha 57 mil empregados e ao final de seu mandato o quadro chegou a 83,2 mil empregados. As concessões de crédito habitacional saíram de R$ 5 bilhões em 2003 para R$ 14 bilhões em 2006.

A partir de 2014, os planos de abertura de Capital da Caixa começaram a aparecer e as Campanhas da Fenae, com apoio das entidades representativas e do movimento sindical e associativo, em favor de um banco 100% público aumentaram ainda mais. Confira a linha do tempo:

Os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro voltaram a atacar a Caixa e os empregados. Medidas como o esvaziamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), PDVs e aberturas de capital estão enfraquecendo um dos principais patrimônios da população brasileira. Em 2021, a ameaça de privatização está ainda mais forte. O atual presidente do banco, Pedro Guimarães informou que o IPO da Caixa Seguridade irá acontecer ainda no primeiro semestre do ano. Já o banco digital, uma ferramenta criada com a expertise dos empregados, será criado já com a intensão de ser vendido com data prevista para o segundo semestre.

“Nesses 160 anos onde a Caixa se mostrou fundamental para a população brasileira. O banco digital já nasce com objetivo de privatização e tem um objetivo mais ousado e perigoso. Qual será o futuro dos programas e benefícios sociais se estiverem nas mãos do mercado privado, que só visa o lucro?”, questiona Takemoto.

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