O Dia Nacional do Livro, lembrado no último sábado (29 de novembro), é uma homenagem à data que marca o aniversário de transferência da Biblioteca Nacional de Portugal para o Brasil, fato ocorrido em 29 de outubro de 1810. Desde então esse monumento da literatura nacional localiza-se no centro do Rio de Janeiro, considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma das maiores bibliotecas do mundo e a maior da América Latina.

Diante da singularidade da história do livro no Brasil, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) indaga: que tal aproveitar a data do Dia Nacional do Livro para presentear familiares e amigos, incentivando a combinação da leitura com a escrita? O presidente Sergio Takemoto defende a ideia de que, por meio da leitura, é possível expandir o conhecimento e facilitar a interpretação do mundo, ampliando a comunicação com outras pessoas no dia a dia. “O hábito da leitura deve ser estimulado, pois essa prática amplia o vocabulário, proporciona mais conhecimento, ajuda a escrever melhor, estimula a criatividade e a imaginação, relaxa a mente, melhora a memória e reduz o estresse”, observa.

Com base nesse conceito mais antropológico, e em parceria com a Coordenação Estadual da Moradia e Cidadania do Amazonas, a Fenae e a Apcef/AM estão tocando, desde setembro deste ano, a “Canoa literária” na comunidade do bairro Colônia Antônio Aleixo, antiga Colônia dos Hansenianos (lepra), na Zona Leste de Manaus (AM), tal como foi realizado na comunidade Nossa Senhora de Fátima, também na capital amazonense. A iniciativa surgiu no bojo do projeto “Um olhar para o futuro”, desenvolvido para estimular a leitura e a escrita de crianças e adolescentes ribeirinhos. O palco dessa ação inovadora e criativa são as margens das águas na divisa do rio Negro (de água preta) com o rio Solimões (de água barrenta). O fenômeno registra o encontro das águas dos dois rios que correm lado a lado sem se misturar, por uma extensão de mais de 6 quilômetros. Essa é uma das principais atrações turísticas da cidade de Manaus.

Para aliar educação com inclusão social e promoção da cidadania, buscando dessa vez envolver não só crianças e adolescentes, mas também jovens e adultos, com predominância de idosos, a Fenae e a Apcef/AM dão sequência à parceria com a Coordenação Estadual da Moradia e Cidadania/AM, visando planejar o futuro para a construção de um país melhor, com cidadania, democracia e sem desigualdade. Esse é o propósito que norteia o jeito de fazer do segundo edital na região amazônica, traduzido no projeto “Educar para o futuro”, com diretrizes e objetivos mais abrangentes do que o anterior.

É fato que o “Educar para o futuro”, que passou a operar em setembro e deve vigorar até maio de 2023, é uma continuidade ampliada de “Um olhar para o futuro”. A “Canoa literária”, baseada no princípio do reforço escolar e da alfabetização, une os dois projetos ao propor um diálogo intercultural entre crianças, adolescentes, jovens e adultos (com destaque para os idosos) em situação de vulnerabilidade social de comunidades ribeirinhas de baixa renda e entidades representativas do movimento nacional dos empregados da Caixa Econômica Federal. O intuito é compartilhar saberes acerca das identidades dos agentes envolvidos na ação coletiva, contribuindo assim para a redução do índice de analfabetismo e evasão escolar.

O espaço onde o projeto irá desenvolver-se até maio do próximo ano está situado no entorno da sede da associação amazonense. Serão realizadas ainda atividades culturais, esportivas, recreativas e ambientais, baseadas na aplicação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. O novo projeto prevê também a realização de oficina técnica comportamental, com foco nas emoções, nas crenças e nos valores. Busca-se, assim, estimular o protagonismo de crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Leitura e escrita em destaque

Pela “Canoa literária”, serão feitas “leituras do mundo” com crianças, adolescentes, jovens e adultos de baixa renda, através de ações de reforço escolar e alfabetização. O termo “leituras do mundo” foi utilizado pelo educador Paulo Freire (1921-1997), que defendia ser um dos objetivos da escola ‘ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo’. Foram formadas duas turmas: uma de reforço escolar com 25 crianças e adolescentes de 8 a 12 anos, reunidas em torno de atividades de leitura, escrita e operações de matemática básica, além de aulas de educação financeira e ambiental. A outra turma, para alfabetização de jovens e adultos, contará com a participação de 25 adultos, sendo 90% de idosos. Esse segundo grupo desfruta o sonho de aprender a ler e a escrever seus nomes ou sua própria história, alcançando até mesmo a chance de tirar uma nova carteira de identidade.

A “Canoa literária”, iniciativa para o estímulo da leitura de crianças e adolescentes ribeirinhos, é utilizada nas atividades da Festa Cidadã, que acontece uma vez por mês em cada comunidade local próxima, e na agenda do calendário escolar da região. A experiência propicia a cada criança ou cada adolescente a prática da leitura, conforme a realidade local. Isso permite situações de alunos criando o seu próprio personagem como ribeirinho, naquilo que pode ser definido como instrumento de incentivo à imaginação, podendo levar minibibliotecas até as margens do rio.   

O presidente da Apcef/AM, Paulo Roberto da Costa, afirma que a tendência é de o projeto “Educar para o futuro” repetir o sucesso de “Um olhar para o futuro”, pois ambos contribuem para o processo educacional de crianças e adolescentes, e agora de jovens e adultos. “A ideia é envolver toda a comunidade em todo esse processo, que pode crescer ainda mais com as parcerias locais”, explica.

Para Sergio Takemoto, a parceria da Fenae e da Apcef/AM com a Moradia e Cidadania é uma forma de resistência e aponta diferentes caminhos para a inclusão social, servindo de exemplo nítido de solidariedade e transformação na perspectiva da construção de um país justo, equilibrado e saudável.  

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