A implementação do Programa Super Caixa, realizada pela empresa em meados de agosto, trouxe mudanças profundas no comissionamento pela venda de produtos. Com os critérios mais restritivos previstos pelo programa (que exige nota maior que 100% no resultado.caixa e de ao menos 100% em NS e no CSAT/NPS), menos empregados se habilitam a receber as comissões. Além disso, a menor frequência dos pagamentos (que diminuiu de quatro por ano para dois por ano), reduz o valor.
Não obstante, a Caixa tem divulgado crescimento expressivo nos resultados obtidos pela empresa por meio da comercialização dos produtos das subsidiárias da Caixa Seguridade. Parte deste impacto está demonstrado nas notas explicativas publicadas pela Caixa Corretora em suas demonstrações financeiras, que apontam um crescimento de 10,55% das receitas de prestação no primeiro semestre de 2025 (em que obteve R$ 1.100 milhões) em relação ao mesmo período de 2024 (quando alcançou R$ 995 milhões). Confira:

A comercialização destes produtos não ocorre de forma direta pela Caixa Corretora. Sua estrutura de pessoal é enxuta, e a subsidiária conta com 18 empregados, como podemos verificar abaixo:

O grande motor que movimenta as engrenagens da Caixa Seguridade é a rede de varejo e de atacado da Caixa, que vende à subsidiária seu balcão e a força de trabalho de seus empregados. Isto também é evidenciado nas notas explicativas das demonstrações financeiras da Caixa Corretora, como podemos verificar:

Esta nota explicativa da Caixa Corretora demonstra que a companhia repassou à Caixa R$ 192 milhões referentes ao comissionamento de venda de produtos no primeiro semestre de 2025. O pressuposto é que este valor foi direcionado para remunerar os empregados que comercializaram os produtos da Caixa Seguridade. Porém, não é bem assim. A Caixa Corretora faz este repasse a Caixa, que pode (ou não) utilizar o valor para pagamento das comissões aos empregados. Quando analisamos as demonstrações financeiras da Caixa Seguridade, a holding, verificamos que houve repasse da Corretora à Caixa referente ao terceiro trimestre de 2025. Porém, como o Super Caixa extinguiu o pagamento trimestral das comissões aos empregados, o valor não foi repassado ao empregado (e nada garante que será). Confira:


Isto suscita pelo menos duas dúvidas: quem fica com este valor que é repassado pela Corretora à Caixa, e quem realmente se beneficia do trabalho que é realizado pelos empregados?
Às respostas: se a Caixa recebe da corretora o valor referente ao comissionamento pelos produtos comercializados, e, pelo fato de ter criado regras restritivas que deixaram o empregado inabilitado a receber a remuneração, por óbvio o valor permanece com o banco, e passa a compor seu resultado. Assim, quem realmente se beneficia pelo trabalho dos empregados são: a própria Caixa, os acionistas minoritários da holding Caixa Seguridade e os parceiros das Joint Ventures que compõem o conglomerado, pelo faturamento gerado pelos empregados através da venda de produtos; novamente, a Caixa, que recebe tarifas pela cessão de sua rede de distribuição e pela força de trabalho dos emrpegados; e por fim, novamente, a Caixa, à medida que incorpora o valor das comissões recebidas e eventualmente não distribuídas aos empregados em função das restrições que impôs para a elegibilidade ao comissionamento pela venda de produtos.
De acordo com as últimas simulações às quais a Apcef/SP teve acesso, que são da primeira decena deste mês, cerca de 58,4% das unidades não estariam habilitadas, o que deixaria seus empregados sem receber as comissões pelos produtos que venderam. Com a atualização da nota do CSAT, o percentual de unidades que estão de fora deve aumentar. Mesmo com a maioria das agências de fora, quase todas as unidades agregadoras estão elegíveis, o que ressalta a injustiça do modelo.
“É fundamental que todos se engajem na campanha ‘Vendeu, Recebeu’, e assinem o abaixo-assinado (clique aqui para assinar), para que possamos ter a abertura de uma negociação com a direção da Caixa para estabelecer um novo modelo para seu programa próprio de remuneração. O atual modelo é extremamente injusto, e a insatisfação entre os empregados é cada vez maior. A não ser que muitas mudanças ocorram, um grande número de empregados que contribuiu para o resultado da empresa ficará alijado do reconhecimento, e em muitos casos em decorrência de distorções, como no caso da absorção das metas em decorrência do fechamento de agências, de inconsistências dos sistemas que impactam na experiência do cliente e penalizam a nota da unidade, em função de situações pontuais, como a ausência de digitalização de um único termo de adesão a fundos, etc. A lista é enorme”, ressalta o diretor-presidente da Apcef/SP, Leonardo Quadros. “Temos um acúmulo de debates com os empregados afetados, e estamos prontos para contribuir com a direção da Caixa, por meio de um diálogo construtivo, para criar um modelo justo e que reconheça o esforço de todos os empregados”, finalizou Leonardo.