Edição: 69
Organizações patronais, FIESP à frente, e mídia familiar, segmento liderado pelas organizações Globo, repetem insistentemente o nome do mal maior do país: chama-se gasto público. Defendem, assim, a redução das despesas. Encabeça a lista de males a folha de pagamento da máquina, segundo eles, inchada. Mas, afinal, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que representa a riqueza produzida no país, a máquina cresce ou se reduz nos últimos anos? Se reduz. Em 2002, correspondia a 4,78% e, em 2015, 3,98%.

Previdência e rentistas

Também sob a visão das organizações patronais mencionadas acima, outro dos males que deve ter intervenção imediata é a previdência pública. Propostas recorrentes são desvinculação do valor do benefício em relação ao salário-mínimo e imposição de idade mínima. Desvinculação do salário-mínimo é sinônimo de aposentados ganhando menos que o mínimo; idade mínima é castigar o mais pobre, que, em regra, começa a trabalhar e contribuir muito mais jovem. Mas é conveniente registrar que, em proporção ao PIB, o dispêndio da amaldiçoada previdência está se equiparando ao gasto com abençoados juros nominais da dívida pública. A diferença é que a previdência alcança dezenas de milhões e a dívida pública alguns milhares, se tanto.

Uma ponte para os especuladores

O Orçamento público, proposto pelo Executivo a cada ano e aprovado pelo Congresso Nacional, contém vinculações, espécie de travas legais: há mínimo a ser gasto em educação e saúde, por exemplo, além do custeio da própria máquina. O programa “Uma Ponte para o Futuro”, resumo das pretensões do futuro governo Temer, se apeado o governo Dilma, defende o fim das incômodas vinculações. Com essa futurista visão, o governo de plantão disporia de todo o recurso para aplicá-lo a seu juízo, sem a inconveniente trava constitucional. No caso, gastará sob a ótica plutocrática. É, certo sentido, o fim de muitos dos direitos garantidos na Constituição Federal. Certamente, a ponte para o futuro será a via para carregar mais dinheiro à já carregada rubrica “encargos especiais”.

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