Eles estão apavorados e sem perspectivas. Conversam com a APCEF/SP sobre o assunto, mas pedem para não ser identificados, por medo de represálias. Querem dialogar com a empresa, mas não há negociação.

Um gerente Pessoa Jurídica da Caixa conversou com a APCEF/SP e fez um relato emocionante sobre suas angústias pessoais e a pressão profissional que sofre dentro da empresa, especialmente a partir da implantação da verticalização, que elevou ainda mais o nível de estresse.

“Estou adoecendo e perdendo minha vida. Tenho filhos para criar e estou perdendo saúde. Acordo todos os dias atormentado pelo fantasma das mensurações de metas impossíveis impostas pelas Caixa”, desabafa.

O empregado conta desde a implantação da verticalização, fala da falta de transparência da Caixa, do desânimo dos colegas, da mudança de foco do banco público e do terrorismo, que o governo e direção do banco, fazem com os empregados.

 

APCEF/SP – Como aconteceu o processo de verticalização na Caixa?

Empregado – As primeiras informações que recebemos sobre a verticalização começaram a ser apresentadas mais ou menos no fim de 2016. As regras não estavam bem definidas apenas sabíamos que seria estabelecida uma pontuação mínima para as carteiras e que só iriam considerar as empresas com faturamento acima de R$ 360 mil. Este critério também seria usado para definir se uma agência manteria a função de gerente Pessoa Jurídica ou se passaria a ter o gerente de Atendimento e Negócios.

A partir disso, muitos passaram a sentir a guilhotina no pescoço e que coisa boa não estava por vir. Enquanto outros, imaginavam que seria um desafio, coisa que mais tarde revelou-se nada interessante. A tônica deste processo foi a falta de transparência da Caixa especialmente com os gerentes.

 

APCEF/SP – Quais foram os argumentos da Caixa?

Empregado – A direção do banco afirmava que o banco público deveria se alinhar ao mercado e aos números dos bancos privados, para isso teria que melhorar seu desempenho. Para atingir os números exigidos na mensuração da verticalização, em alguns casos, significava um aumento em mais de 500% no número de clientes na carteira com as características exigidas. Basicamente, teríamos que apresentar em um prazo de quatro meses um resultado que conquistamos em quatro anos de trabalho.

 

APCEF/SP – De onde vinham as orientações?

Empregado – Na maioria das vezes recebíamos informações que vinham da diretoria de Clientes e Canais (DECLI).

* (O diretor da DECLI é Ademir Losekan, vinculado a Vice-presidência Clientes, Negócios e Transformação Digital – VICLI, sob a responsabilidade de José Henrique Marques da Cruz).

 

APCEF/SP – Além da falta de transparência na comunicação com os empregados e a pressão para alcançar os números exigidos, vocês enfrentaram mais dificuldades?

Empregado – Graves problemas no sistema geraram muitas inseguranças nos gerentes, pois ao qualificar e abrir uma conta não impactava no sistema. Em outros casos, o sistema começou a gerar impacto errado a dar mais pontos para uma agência e menos para outras. Isso foi um fator gravíssimo que gerou muito estresse e, especialmente, medo de perder a função.

 

APCEF/SP – Quais os prazos estabelecidos pela Caixa para mensurar os resultados?

Empregados – O prazo dado era até 30 de junho de 2017, mas a Caixa demorou para estabelecer os critérios de pontuação. Recebemos a pontuação da nossa carteira somente em março de 2017 e depois demorou também para definir quantos pontos teria cada tipo de empresa. Enquanto isso, o prazo estava correndo e no meio do jogo iam definindo as regras.

Chegou dia 30 de junho e ainda não tinham consolidado a forma de mensuração da carteira, tiveram que adiar para dezembro de 2017. Mais terror nas costas dos gerentes, mais preocupação e mais insegurança.

 

APCEF/SP – O que aconteceria com os gerentes caso não alcançassem os pontos exigidos?

Empregado – A principal ameaça é a perda da função e/ou a redução em 34,5% da renda. Alguns colegas preferiram fugir da pressão, aderiram ao Programa de Demissão Voluntária Extraordinária (PDVE) e montaram um negócio próprio. Outros, que estão adoecendo, querem entregar o cargo. Todos os dias ao acordar fico imaginando que tenho que fazer o serviço quatro vezes mais rápido para tentar entregar resultados ainda maiores.

 

APCEF/SP – Quais são as condições de trabalho oferecidas para desenvolver esta atividade?

Empregado – Na maioria dos casos os gerentes saem para prospectar clientes com recursos próprios. Arcam com os custos do deslocamento e usam celular particular. Além disso, nem sempre a Superintendência Regional aprova o crédito para o cliente e acabamos perdendo viagem.

 

APCEF/SP- Há notícias quanto à continuidade da verticalização em 2018?

Empregado – Na quinta-feira, 4 de janeiro, a Caixa anunciou que vai mudar as carteiras e a forma de mensuração. Então a angústia aumenta, pois era para fazer o corte em 31 de dezembro de 2017 e ninguém sabe quais serão os novos critérios ou se teremos algum prazo para reorganizar nossas carteiras.

Este ano está ainda pior. As metas de produtos aumentaram, o seguro prestamista está o dobro e a aplicação financeira, 50% maior. Aliada a tudo isso a necessidade de aumentar a quantidade de clientes em um sistema altamente burocrático, que consome grande parte do nosso dia atividades operacionais

Para muitos, a esperança é que o sistema continue não conseguindo mensurar as carteiras e que o governo mude.

 

APCEF/SP – Há mudanças de paradigmas no banco público com o governo Temer?

Empregado –  A Caixa não é qualquer banco, é um dos principais instrumentos de realização de sonhos dos brasileiros, quantas famílias conquistaram casa própria com o crédito da Caixa. O que vemos hoje é a escassez no acesso ao crédito com juros mais baixos.  

Os empregados, especialmente os mais novos, precisam ter consciência de que o golpe não foi contra a Dilma. Muitos que estão na Caixa hoje não sofreram o mal dos anos 90, mas precisam compreender essa história, não sabem o que é um governo tentar destruir um banco público, aos poucos vão tomando consciência. Vamos continuar lutando pela Caixa 100% pública.

“Acreditamos que para mudar este cenário é preciso mobilização dos empregados na luta para manter a Caixa 100% pública. É necessário o envolvimento de todos para que possamos barrar os desmandos da direção do banco que segue a lógica do governo Temer que tem por princípios extinguir direitos dos trabalhadores e as empresas públicas, patrimônio do povo brasileiro”, finaliza a diretora de Relações Sindicais, Sociais e Trabalhistas da APCEF/SP, Ivanilde de Miranda.

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