O governo de Temer adota medidas de realinhamento das políticas dos bancos públicos que vão na contramão do papel que estas instituições financeiras desempenharam, especialmente nos últimos 12 anos.

Durante a crise econômica mundial de 2008/2009 os bancos públicos foram locomotivas do crédito dentro das medidas anticíclicas adotadas no país. Em 2012, o governo utilizou o Banco do Brasil e a Caixa para forçar uma redução das taxas cobradas pelos bancos privados ao combater o elevadíssimo spread bancário brasileiro (diferença entre o que a instituição gasta para captar dinheiro e o que cobra para conceder crédito).

O cenário imposto hoje pelo governo Temer é assombroso. Em conjuntura desfavorável, economia em retração com o registro negativo do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 de menos 3,8% e, para 2016, previsão de menos 3,2%, suas medidas encarecem as operações de financiamento de veículos e crédito rotativo do cartão de crédito e do cheque especial, entre outras operações.

Desta forma, com a elevação das taxas de juros, a tomada de crédito pela população é retraída e, como consequência, cai o consumo, cai a produção e aumenta o desemprego.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa) divulgou esta semana pesquisa que comprova a retração da economia considerando os indicadores de vendas no comércio varejista. Nos últimos 12 meses a queda foi de 6,7% e, até mesmo em setores considerados vitais, como o alimentício, a queda foi de 3%.

Visão da presidência da Caixa – o presidente da Caixa, Gilberto Magalhães Occhi, em declaração ao jornal O Estado de São Paulo, de 9 de junho, já descaracterizava a política de oferta de crédito assumida pelas instituições financeiras em 2008/2009. Assim, o presidente do banco atua para a redução da importância da Caixa no mercado.

A comparação das taxas de juros praticadas pela Caixa em operação de cartão de crédito rotativo, por exemplo, mostra que a escolha por esta política é avassaladora. E em 2015 taxa que era de 146,2%, em setembro de 2016 saltou para 535,2% (veja tabela).

“Em uma economia que registra aproximadamente 10% de inflação ao ano é inadmissível taxas de juros nestes níveis. Os bancos públicos, de alguma forma, iniciaram um processo para reduzir essa discrepância. Porém, agora, o que vemos é a equiparação das taxas dos bancos públicos com as praticadas pelos bancos privados”, diz o diretor-presidente da APCEF/SP, Kardec de Jesus Bezerra.

Participação da Caixa – em 2015 a presença da Caixa no mercado em operações tradicionalmente raras no banco público abocanhou fatias de 20% em créditos e entre outras consequências permitiu crescimento e maior participação nos depósitos à vista de 18% e de 21,4% no CDB, o que representou crescimento da instituição financeira 100% pública. A presença ativa da Caixa no mercado incomodou os banqueiros de bancos privados que, enquanto pisavam o freio, viam o banco público conceder créditos com taxas de juros reduzidas. Agora o processo é inverso, em vez de seu fortalecimento, o governo adota medidas para enfraquece-la.

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