Por Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT

Vinte e dois minutos. Foi o tempo que durou a quinta rodada de negociação – ocorrida no dia 8 de setembro – em que os banqueiros alegaram não ter condições de “chegar nem perto do índice de 18%”, referente a inflação do último período. “A proposta de recomposição salarial que vocês querem é muito alta para os bancos pagarem. Nós não temos condições” – disse o negociador dos banqueiros, Magnus Apostólico.
Ele explicou que ainda vai discutir com os bancos para ver se aumenta a contraproposta de 10% feita pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). “Hoje nós só queremos deixar claro que o índice que vocês pleiteiam é inatingível” – justificou.

Quintas-feiras: paralisações

Indignados com o esvaziamento da reunião, os bancários decidiram manter todas as quintas-feiras como o Dia Nacional de Lutas, com paralisações nas agências bancárias, e às terças-feiras para mobilizar a categoria. “Se os banqueiros não tiverem condições de, ao menos, repor as perdas salariais corroídas pela inflação, quem é que tem então?” – questionou Vagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT).
O sindicalista ressaltou que, mesmo com recordes em cima de recordes na lucratividade, a ganância dos banqueiros os impedem de, pelo menos, respeitar seus funcionários e pagar um salário digno. “Eles alegaram que não têm condições de repor a inflação do período. Ora, a inflação deveria ser reposta automaticamente, já que o sistema financeiro não conhece crise no Brasil há anos” – comentou Vagner.
A revolta dos bancários tem sentido. Um levantamento produzido pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fecap), para o suplemento Melhores e Maiores 2003, publicada pela Revista Exame, indicou que os 50 maiores bancos que atuam no Brasil tiveram lucro líquido em 2002 da ordem de US$ 5,74 bilhões. Este valor é quatro vezes superior aos lucros registrados pelas 50 maiores empresas brasileiras dos segmentos de indústria, comércio e serviços, que acumularam US$ 1,34 bilhão no ano passado.
Vagner lembrou que até os empresários do setor produtivo reclamam dos banqueiros, devido aos altos juros e à falta de crédito. “Na entrega da minuta da campanha salarial única, encabeçada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em agosto, os industriais da Fiesp reclamaram que o desemprego e o arrocho salarial no setor são causados pelos banqueiros, que lucram quatro vezes mais que outros setores e não têm qualquer compromisso com a sociedade brasileira” – lamentou Vagner.

Próxima rodada

A próxima rodada de negociações está prevista para o dia 17 de setembro, quarta-feira, às 15 horas. “Só esperamos que os banqueiros levam à sério as negociações e apresentem um índice que contemple os anseios dos bancários que, a cada ano, vêem seu poder de compra diminuir e o lucro dos seus patrões aumentar” – concluiu Vagner.

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