O preço de algumas tarifas bancárias aumentou nos últimos dois anos em uma proporção bem maior do que a inflação média acumulada no período, de acordo com levantamento feito pela Folha de S. Paulo, com base em dados das próprias instituições financeiras.
Foram pesquisadas cinco tarifas: DOC, talão de cheque, cheque avulso, ficha cadastral e cartão magnético. Na Caixa Econômica Federal, o cartão sofreu um reajuste de 32,7% em dois anos, indo de R$ 5,20 para R$ 6,90.
Ao justificar os aumentos, a Caixa informou que eles ocorreram em razão de reajuste nos contratos com fornecedores. O banco explicou que entre as 53 principais tarifas de conta corrente apenas 13 sofreram alteração no período – uma delas caiu 28,57% (licenciamento de veículo por meio da internet). Na média, afirmou a Caixa, as tarifas apresentaram variações de 19,8%.

• Tarifas: grande fonte de receita

De janeiro de 2003 a dezembro de 2004, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) teve alta de 18,13%. Já as tarifas, por sua vez, subiram mais. No ABN-Real, por exemplo, o cartão magnético aumentou 100% – de R$ 4,50 para R$ 9. Foi a mais alta variação apurada entre os sete maiores bancos do País.
O analista Luís Miguel Santacreo, da Austin Asis, consultoria especializada no setor bancário, afirmou que, com a inflação em nível baixo, os bancos passam a ter nos serviços uma importante fonte de receita: “O ganho com a inflação permitia ao banco não cobrar por serviços”.
Um levantamento da consultoria revelou que Caixa, Bradesco e HSBC, por exemplo, cobrem toda a sua folha de pagamentos apenas com o que é arrecadado com serviços e ainda sobra um pouco no caixa.
De acordo com o analista, com a estabilidade, os bancos tiveram de se preocupar em aumentar seus índices de eficiência, o que os fez elevar suas receitas e cortar custos. Aumentaram tarifas e reduziram pessoal.
Houve, de acordo com ele, uma forte terceirização, o que gerou muitas demissões. E mais ações por parte das instituições estão em curso. Uma delas, contou, é o compartilhamento de caixas eletrônicos. “Os bancos fizeram tudo isso e farão ainda mais para chegar nos níveis internacionais de rentabilidade” – disse.

• Falta concorrência

Na visão do analista, um dos motivos que explica os aumentos é a falta de concorrência no setor.
A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – órgão ligado ao Ministério do Planejamento – Lúcia Helena Salgado disse que o Banco Central preocupa-se principalmente com a questão de “risco sistêmico” (do banco quebrar por problemas de liqüidez) ao analisar uma fusão bancária, sem dar a mesma atenção a questões de interesse do consumidor, como as tarifas.
A economista ainda criticou o fato de o setor bancário não estar sob a responsabilidade do Conselho Administrativo de Desfesa Econômica (Cade), diferentemente de outros países nos quais o Banco Central e órgãos de defesa da concorrência atuam juntos.
Procurado, o Banco Central não se manifestou sobre críticas à sua atuação como agente regulador do sistema bancário.

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