Baratear as atividades bancárias. Precarizar, terceirizar e transferir o atendimento realizado pelo bancário a trabalhadores de call center. Extinguir agências físicas. Expandir horários de atendimento…

Todos estes aspectos estão na publicação do Valor Econômico, desta terça-feira, dia 27, com a manchete “Bancos estimulam migração de clientes para atendimento digital” que reforça a intenção dos banqueiros de substituir o bancário por trabalhadores “mais simplificados”, como definem.

E o que isso significa? Significa que bancários serão substituídos por trabalhadores com pouca experiência, em sua maioria jovens e estudantes universitários, que estão no primeiro emprego e com perspectiva de sair do setor, conforme estudo de perfil dos trabalhadores de telemarketing elaborado pelo sociólogo da Unicamp Ricardo Antunes.

Antunes destaca que o trabalhador do call center não é especializado, normalmente divide seu tempo com os estudos ou mesmo com outro emprego, trabalham em ritmo extenuante e com interferências constantes de superiores. Assumem as responsabilidades das atividades bancárias e seus riscos sem as mesmas garantias e direitos dos bancários e têm acesso aos dados sigilosos dos clientes. Neste caso, como garantir a segurança bancária? A quem o cliente irá recorrer em caso de prejuízos? Ou os serviços de call center serão executados por bancários?

Além de todos estes questionamentos, o banco digital transfere para o cliente a responsabilidade e os riscos das operações, reduzem os custos dos banqueiros e terceiriza o trabalho do bancário. Assim, não tratam da responsabilidade que os bancos têm de assumir e prestar serviços à sociedade e, também do emprego bancário.

Ao que parece as restruturações propostas nos bancos públicos caminham neste mesmo sentido. A Caixa com a aplicação de descomissionamentos arbitrários, extinção da função de caixa e o fechamento de 3.219 postos de trabalho em 2015. O Banco do Brasil com um plano de reformulação da rede de atendimento que vai fechar 402 agências físicas, transformar outras 379 unidades em postos mais simplificados e abrir 255 unidades digitais. A direção do Banco do Brasil precisa explicar como se dará este processo: onde estão localizadas estas agências que serão fechadas? Seus clientes já são usuários do banco digital?

Para os banqueiros as receitas com vendas de produtos são maiores e os custos acabam sendo menores, é muito mais viável com o banco digital.

“O banqueiro segue a lógica do capital e só enxerga o lucro, não está preocupado com a precarização do trabalho do bancário e nem com o atendimento ao cliente”, reforça o diretor da APCEF/SP, Edvaldo Rodrigues da Silva.

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