Não faz sentido algum vender o patrimônio público, enfraquecer a atuação de um banco como a Caixa que é parceiro histórico dos mais pobres, da indústria, da habitação, do saneamento e da infraestrutura, do setor produtivo do país. A opinião é do deputado federal Zé Neto (PT-BA) que presidiu na última segunda-feira, dia, 5 a audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados sobre o papel da Caixa Econômica Federal e sua importância na recuperação da economia. 

“Esse é um primeiro passo que estamos dando para levar esse debate à sociedade, não podemos nos omitir”, afirmou ele, que foi o autor da proposta de audiência na Comissão. O parlamentar lembrou que enquanto países como o Reino Unido e os EUA estão investindo em bancos públicos e liberando recursos públicos para investimentos sociais, no Brasil há um esvaziamento da função social da Caixa e de programas que incentivam o setor produtivo da construção civil, por exemplo. 

A tentativa de esvaziar as funções da empresa e sua relevância, no entendimento do presidente da Fenae, Sergio Takemoto, um dos convidados do debate, são estratégias do governo para privatizar por fatias a empresa. Ele lembra que os empregados da Caixa desenvolveram um aplicativo, o Caixa Tem, e a direção já anunciou que será transformado em banco digital, várias das atividades da Caixa seriam transferidas para esse banco, que depois abriria seu capital. “Em vez de fortalecer vai esvaziando suas funções. O que a Caixa poderia fazer? Com 15 milhões de desempregados no país e mais seis milhões que nem procuram mais emprego, que estão em desalento, poderia investir na construção civil, por exemplo”, afirmou ele, lamentando que o país tenha voltado ao mapa da fome e que o governo só apresente como solução a privatização do que é público, porque não tem projeto para enfrentar a crise.

Coordenadora do Comitê em Defesa das Empresas Públicas e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano lembrou que parte do projeto de privatização do governo é feito por meio da criação de subsidiárias, empresas que recebem funções da empresa mãe e que depois podem ser oferecidas ao mercado.  Uma “manobra criativa”, como ela definiu, para burlar a deliberação de 2019 do Supremo Tribunal Federal, que proibiu a privatização de estatais sem o aval do Congresso Nacional, mas permitiu a venda de subsidiárias dessas estatais pelo governo Federal. 

“Para se ter uma ideia, em 2018 a Caixa possuía três subsidiárias, agora são 12, com o anúncio de outra, que seria o chamado banco digital, para onde se transferiria boa parte das operações. No médio prazo, isso criará um problema de sustentabilidade para o banco”, critica Rita Serrano.

Também participou da audiência, a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa, Fabiana Uehara, que ressaltou a atuação da Caixa em momentos como o da crise de 2008. “A importância da Caixa passa pela valorização do seu corpo funcional, dos seus empregados, mas na contramão do mundo estamos aqui diminuindo os investimentos e quem perde é toda a população”, afirmou.

Diante da ausência do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, o representante designado pela empresa, Domício Tinoco, limitou-se a apresentar os dados dos atendimentos em 2020 e das contratações em 2021 (em março foram anunciadas 2766 contratações, sendo que somente no último ano 2943 pessoas se desligaram da empresa pelo PDV); e alertou contudo que a abertura de novas agências será com remanejamento de pessoal e não com novas contratações. 

A deputada Erika Kokay (PT-DF) lamentou a ausência do presidente da Caixa e foi dura: “Não tem sentido privatizar a Caixa e é preciso que o governo deixe de ser cínico, e admita que está enfraquecendo a Caixa, desvalorizando os trabalhadores e usando as subsidiárias para abrir o capital sem passar pelo Congresso Nacional, para privatizar aos pedaços, retirando aos poucos suas funções, uma manobra clara”, criticou ela.

Emoção 

Um momento de emoção durante a audiência foi o depoimento de Isabela Freitas, representante dos concursados de 2014 que lutam pela convocação para integrarem os quadros da Caixa: “Fazemos um apelo aos parlamentares e ao representante da Caixa, porque queremos servir ao país por meio desse banco público, que sabemos que contribui ativamente para a melhoria da vida de todos os brasileiros. É o povo que  precisa de mais empregados na Caixa, o país precisa desse banco 100% público”, afirmou.

Isabela ainda cobrou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães o anúncio de que a Caixa faria a contratação de todos os concursados. Segundo ela, a informação criou uma esperança entre os concursados que hoje sofrem com a frustração de não terem sido chamados até o momento. “A gente quer servir a população, a gente quer ajudar essa sociedade”.

 

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