Mãos, vozes, textos, imagens, cliques, pincéis e mentalidades que dão forma à política cultural da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), com mobilização, solidariedade, inspiração e criatividade. Em 50 anos de movimento nacional dos empregados do banco, como resultado de uma obra sonora, visual e estética, o concurso Talentos nasceu em 2016 e segue a trilha deixada pelo Festival da Canção dos Empregados da Caixa (Fenec), Música Fenae, Circuito Cultural, Movimento Cultural do Pessoal da Caixa (MCPC) e Eu Faço Cultura (EFC). Esse novo formato mudou a maneira como a Fenae e as Apcefs passaram a produzir cultura, com técnica e profissionalismo, valorizando sempre mais a música, a literatura, as artes plásticas, a fotografia e o audiovisual. 

No universo dos empregados da Caixa, há mais ou menos 16 anos, os concursos culturais vêm revelando talentos e movimentando a cena artística do banco público e do país. Esse processo foi iniciado em 2004 sob a denominação de Circuito Cultural e uma mecânica distinta da atual, tendo perdurado até 2013. Em 2016, após passar por uma aguda reestruturação, o concurso surgiu como Talentos. Ficou mais abrangente e com uma mecânica mais simples, contando com quatro categorias e oito modalidades: Imagem (fotografia e filme), Artes Visuais (desenho/pintura e desenho infantil), Literatura (conto, crônica e poesia) e música (composição e interpretação). Há disputas em etapas estaduais e nacional, concorrendo à premiação apenas os associados às Apcefs.

Através de concursos culturais ou de plataformas de talentos, a Fenae e as Apcefs apostam no poder transformador de uma comunidade ou de uma categoria profissional que cria e aprecia a arte, permitindo aos indivíduos e ao coletivo expressarem sua visão de mundo. Esse espírito integrativo é a espinha dorsal da novidade trazida pelo Talentos Fenae/Apcef, um concurso que passou a abarcar, desde 2016, o Música Fenae e o Circuito Cultural. Ambos os eventos, originalmente chamados de Fenec, promovem, desde 1986, uma competição que integra compositores e intérpretes com o objetivo de estimular o crescimento e a divulgação de valores artísticos, assim como a descoberta de novos talentos.

A primeira edição do Fenec, realizada nos dias 20 e 21 de novembro de 1986, na cidade de Vitória (ES), como tantas outras iniciativas das entidades representativas, é resultado das lutas dos trabalhadores do único banco 100% público do país. Tanto que aconteceu um ano após a greve histórica de 30 de outubro de 1985, sob o mesmo formato do Festival dos Festivais, da Rede Globo, que consagrou a canção “Escrito nas Estrelas”, interpretada por Tetê Espíndola. No palco desse Fenec encontrava-se o bancário Ronaldo de Oliveira, associado à Apcef/RJ e aposentado desde 2020, revelando gratidão por fazer parte desta história de cunho cultural, social e político das mobilizações dos trabalhadores da Caixa.

Ronaldo de Oliveira recorda que conquistou o primeiro lugar na segunda edição do Fenec, que aconteceu em Manaus (AM) em 1987. Ele também já participou de algumas edições do Talentos, conquistando o segundo lugar na que foi realizada em Recife (PE), quando concorreu em composição na categoria música. Na derradeira edição desse concurso cultural, ocorrida em 2020 e de maneira on-line, o aposentado carioca ficou em terceiro lugar em interpretação (música). “Aproveito a oportunidade para parabenizar a Fenae pelos 50 anos de união, lutas e conquistas. A Federação, em conjunto com as Apcefs, faz um ótimo trabalho em diversas frentes de atuação. Trabalha não só no fomento às várias atividades artísticas dos empregados da Caixa, mas representa um marco importantíssimo na luta pela manutenção do banco 100% público”, resume.   

Com o passar do tempo, o jeito da Fenae e das Apcefs de fazerem cultura foi sendo aperfeiçoado. No início, era apenas um festival da canção ou um concurso cultural. Passaram-se décadas até que chegasse ao que é hoje: uma verdadeira plataforma de aptidão artística, sob o nome de Talentos Fenae/Apcef.

Mas, afinal, que mudanças estão sendo pensadas para a área de cultura da Fenae para o próximo período? A resposta, direta e sucinta, é dada por Nilson Alexandre de Moura Júnior, diretor Sociocultural da Federação: “Em 2021, como ainda não se vislumbra a imunização da população e dos empregados da Caixa, em particular, vamos realizar o Talentos Fenae/Apcef de forma virtual mais uma vez, em quatro etapas regionais no mês de agosto, com a final acontecendo em dezembro”. Ele diz contar com o apoio das associações afiliadas para aumentar o número de participantes e obras, a exemplo do que ocorreu no ano passado, quando todos os recordes de inscrição foram batidos. A meta, segundo ele, é superar as mais de três mil obras inscritas em 2020.

Nilson Júnior afirma que, para a pasta Sociocultural da Fenae, estão previstas muitas novidades, com a implantação de novas ações culturais em prol do bem-estar dos associados das Apcefs.  “Uma das formas de fazer o combate contra o retrocesso no Brasil e em defesa da Caixa pública e social é fazer arte e levar cultura para as pessoas. A Fenae e as Apcefs fazem isso com o evento Talentos, que é uma forma de expressão dos empregados da Caixa, com cada obra, música, poema e pintura, por exemplo, funcionando como uma forma de protesto”, reitera o dirigente. Para Nilson Júnior, a arte e a cultura são ambientes propícios à conscientização política, tendo o Talentos como uma referência tão importante. 

O diretor Sociocultural da Fenae, depois de lembrar que o Brasil passa por um período desafiador, com a democracia correndo riscos e o segmento da arte e da cultura podendo derrubar o obscurantismo no país, pede que os associados às Apcefs aguardem as novidades. “Em abril abrem-se as inscrições para a etapa 2021 do Talentos. “Queremos incentivar a participação de novos talentos através das Apcefs e ter um olhar especial ao público aposentado”, pontua.

Outro personagem dos eventos culturais promovidos pela Fenae, com participação cativa em diversas edições, é Paulo César Trabulsi Ericeira, admitido na Caixa por concurso público em 11 de maio de 1979 e associado à Apcef/MA. Na última edição do Talentos Fenae/Apcef, com apresentação on-line em razão da pandemia, Trabulsi ficou em segundo lugar na etapa nacional, com a música “Antigos Casarões”, mesma colocação conquistada na edição de Curitiba (PR), com a canção “Expressivo”. O músico maranhense, inclusive, já participou da fase nacional do Talentos em diversas ocasiões, sempre na categoria composição.

Paulo Trabulsi elogia a atuação da Fenae em 50 anos de história e conquistas, por ser decisiva no apoio a todos os assuntos ligados aos empregados da Caixa. “Quero registrar a integração proporcionada pela entidade nas áreas do esporte e da música. A realização do Talentos, que no passado denominava-se Música Fenae e Fenec no seu início, revela o grande talento dos colegas do banco na música, poesia, fotografia e artes plásticas e visuais”, argumenta. O músico associado à Apcef/MA diz que o atual momento, apesar dos ataques desferidos contra a Caixa pública e contra os direitos de seus empregados, serve para mostrar à sociedade brasileira que os trabalhadores do banco são seres humanos que se emocionam e traduzem por meio da arte diversos sentimentos. 

A primeira participação de Paulo Trabulsi em festivais de empregados da Caixa foi no sexto Fenec, em 1998, em João Pessoa (PB), com a música “Gente do Choro”, consagrada anos mais tarde no CD “Gente do Choro”, produzido em São Luís (MA). Esteve também presentes nas edições de 2017 (etapa nacional), 2018 (etapa regional) e 2020 (etapa nacional). “Sempre fico encantado com o grande talento dos colegas da Caixa”, declara.

Trabulsi sempre atuou na área musical, trabalho dividido com os afazeres como empregado do banco público, no Maranhão. É instrumentista de violão e cavaquinho e integra o Regional Tira-Teima, grupo de vanguarda do choro em território maranhense. Atua também como compositor. Entre os trabalhos realizados pelo músico estão a direção musical do CD “Gente por Choro”, o primeiro Encontro de Chorões do Maranhão (2016) e a série “Música pela Infância”.

O tom político da cultura protagonizada pela Fenae é dado pelo presidente da entidade, Sergio Takemoto. Ele é certeiro ao apontar o caminho a ser trilhado por trabalhadores e sociedade: “Para fortalecer um país, é fundamental incentivar a cultura, a educação e outras políticas públicas. Essa ação é primordial para reduzir as desigualdades sociais. E a Caixa tem sido imprescindível nesse processo de transformação da realidade social. Por isso, o foco da nossa luta é para defender que continue 100% pública”.

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