A unidade dos trabalhadores, somada à defesa dos interesses da população e da sociedade, é o caminho para combater as privatizações e defender os bancos públicos e as estatais. Este foi o principal recado do ato por direitos, empregos e soberania, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e por outras centrais sindicais. A manifestação, ocorrida nesta quarta-feira (30), em Brasília, cobrou mudanças na política econômica do atual governo e reivindicou uma agenda de desenvolvimento para o país, com mais investimento público e retorno do crescimento com distribuição de renda e justiça social.

“Em defesa dos bancos públicos e da Caixa Econômica Federal 100% pública e social” e “defender os bancos públicos é defender a soberania nacional”, além de “governo destrói o serviço público e abandona a população brasileira”, foram algumas das palavras de ordem gritadas durante a mobilização. Os motoristas de ônibus e de carros que passavam pela Esplanada dos Ministérios acenavam positivamente. Bandeiras e faixas coloriram a manifestação, que fez sua primeira parada em frente ao Ministério da Educação, seguiu para o de Minas e Energia, parou no da Economia e encerrou o protesto em frente ao Congresso Nacional.

Vindas de todas as partes do Brasil, caravanas de bancários, metalúrgicos, petroleiros, portuários, professores e servidores públicos federais, além de trabalhadores em estatais como Eletrobras e Correios, terceirizados e desempregados, participaram da mobilização Um dos saldos do ato está expresso no alerta de que a classe trabalhadora não aceita mais ataques a direitos nem a entrega do patrimônio nacional para a iniciativa privada. Isso foi bem explicado pelo presidente da CUT, Sérgio Nobre: “Os trabalhadores ocupam as ruas para defender o Brasil, a geração de emprego e para dar um basta nas políticas de privatizações”. Nobre disse ainda que a mobilização é por um país com democracia, justiça social e com políticas públicas para toda a população.

O ato da CUT, prestigiado por parlamentares e representantes da Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), reafirmou a defesa dos bancos públicos, considerados fundamentais para o desenvolvimento nacional, regional e municipal.

Defesa dos bancos públicos

Depois de ter marchado pela Esplanada dos Ministérios, junto com a caravana de bancários e de trabalhadores de outras categorias, Jair Pedro Ferreira, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), denunciou a política de fatiamento ou sucateamento do único banco 100% público do país. De acordo com ele, um dos exemplos dessa política suicida foi a venda da Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex) para um consórcio estrangeiro, prevendo na sequência IPOs (Ofertas Públicas Iniciais de Ações) para as áreas de seguridade, cartões e gestão de ativos.

O presidente da Fenae convocou os trabalhadores de todas as categorias profissionais a construírem uma grande campanha nacional em defesa da democracia, dos direitos, do emprego e da soberania nacional. Ele lembrou ainda que o ato desta quarta-feira (30) faz parte da campanha em defesa da Caixa Econômica Federal 100% pública e dos bancos públicos, da soberania nacional, do crédito, do emprego e do desenvolvimento.

Durante o ato da CUT, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), Juvandia Moreira, defendeu o papel social e de desenvolvimento dos bancos públicos. Segundo ela, não se pode dizer que uma Nação é soberana se não há emprego, se não há qualidade de vida, se não há desenvolvimento, se os bancos públicos não investirem em políticas em prol da população.

Protagonistas

Na manifestação de Brasília, a Fenae foi representada por seu presidente, Jair Pedro Ferreira. Também estiveram presentes diretores como Sérgio Takemoto (vice-presidente), Cardoso (Administração e Finanças), Marcos Aurélio Saraiva Holanda (Comunicação e Imprensa), Rachel Weber (Juventude), Rita de Cássia Lima (Relações do Trabalho), Dionísio Reis (Região Sudeste) e Francisca de Assis Araújo Silva (membro titular do Conselho Fiscal).

Além da caravana de bancários, com forte participação de empregados da Caixa, marcaram presença ainda os deputados Vicentinho (PT/SP), Gleisi Hoffmann (PT/PR e atual presidenta da legenda) e Erika Kokay (PT/DF), além do líder do MTST, Guilherme Boulos, “para quem não dá mais para permitir que sigam atacando direitos e que entreguem os bancos e as empresas públicas a preço de banana para o mercado financeiro internacional”. 

Um dos recados finais do ato por direitos, empregos e soberania foi o de que a política de Paulo Guedes, ministro da Economia, compromete o futuro do Brasil e por isso todos têm que ir para as ruas: os trabalhadores das cidades e do campo, a dona de casa, os estudantes, os negros, as mulheres, os indígenas – todos contra a destruição do país.

Carta aberta ao povo brasileiro

Durante o ato foi distribuída uma carta à população explicando os motivos da mobilização convocada pela CUT e por outras centrais sindicais. Confira a íntegra do documento: 

“Nós, brasileiros e brasileiras, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, mulheres, jovens, negros e negras, construtores e construtoras do movimento sindical e das lutas populares do nosso país, nos mobilizamos nesta quarta-feira, 30 de outubro de 2019, nas ruas da capital federal, para manifestar nossa indignação com o governo Jair Bolsonaro e sua política econômica que agrava a crise econômica, não gera empregos, ataca nossos direitos sociais e a soberania do nosso país.

“As ações e as reações do governo – e a falta delas – só fazem piorar a situação do povo brasileiro. A economia não cresce. Os desempregados já são 12,6 milhões. Somando desempregados, trabalhadores desalentados e aqueles que só conseguem trabalhos com jornadas parciais, o Brasil tem hoje 27,8 milhões de trabalhadores subutilizados.

A desigualdade social só aumenta. O 1% mais rico do país, que são 2,1 milhões de pessoas, ganham 34 vezes mais do que os 104 milhões de brasileiros que compõem a metade mais pobre da população. Os rendimentos dessa parcela mais rica cresceram 8%, enquanto o dos mais pobres caiu 3%. De toda a renda do Brasil, 40% estão nas mãos de apenas 10% da população, dados que revelam recordes históricos de desigualdade.

Temos um governo que assiste e promove a destruição do país. O ano iniciou com mais um crime da Vale, matando 251 trabalhadores em Brumadinho e vemos, até agora, a inércia do Estado na responsabilização e punição dos envolvidos. Assistimos, depois, a escalada criminosa das queimadas na Amazônia e, agora, o óleo que mancha e polui o litoral do Nordeste sem que o presidente Bolsonaro se digne sequer a visitar a área. É sempre o lucro acima da vida.

Não podemos mais aceitar que o povo trabalhador seja tratado como responsável por essa crise, como querem Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Para eles, a “solução” é tudo para os ricos e patrões e a destruição, o corte e a comercialização dos direitos da maioria do povo. Assim foi com a reforma da Previdência, com os cortes na educação, o congelamento dos investimentos sociais e as propostas de reforma administrativa, tributária e de mais cortes nos direitos dos trabalhadores.

Como se não bastasse todo esse retrocesso e inércia, Bolsonaro e Paulo Guedes colocam o Brasil à venda. Querem liquidar nosso patrimônio, vendendo empresas públicas lucrativas, estratégicas, que são motivo de orgulho para os brasileiros. Entregam nosso futuro planejando o leilão das nossas reservas de petróleo e minando a capacidade de nossas universidades produzirem pesquisa, ciência e tecnologia. Entregam nossa soberania e, com ela, destroem nossa capacidade de projetar um desenvolvimento econômico e social independente e de superar mais essa crise.

Com essa agenda de retrocessos, não espanta a baixa popularidade do governo. O presidente e seus ministros(as) fazem o brasileiro passar vergonha internacional em todas as oportunidades, alinhando-se ao que há de mais atrasado na política internacional. A prática e o discurso de Bolsonaro são fontes de ódio e ataques à diversidade, às mulheres, à população negra, LGBT e a todos/as que lutam por seus direitos.

Frente a esse cenário sombrio, o povo brasileiro está desafiado a resistir e enfrentar esses ataques nas ruas, como fazem nossos irmãos do Chile e do Equador. Na Argentina, o povo já disse basta a esse neoliberalismo autoritário e fracassado. Na Bolívia, Colômbia e Uruguai, quando a democracia é respeitada, o povo escolhe o caminho do desenvolvimento com paz, inclusão social e integração regional. Nos solidarizamos e nos somamos à resistência latino-americano contra um projeto de saque das nossas riquezas e exclusão dos povos da nossa região.

Esse caminho da exclusão não nos representa, assim como Bolsonaro, Paulo Guedes e aqueles que apoiam no Congresso esse governo e sua política. Defendemos e lutamos pelas alternativas que façam do governo parte da solução dos problemas dos brasileiros. Nos comprometemos a dialogar com a classe trabalhadora e todo o povo brasileiro em torno das alternativas que estimulem o crescimento econômico e a geração de empregos de qualidade, garantam nossos direitos, promovam a justiça social e se comprometam com a soberania e a democracia no Brasil.

Brasília, 30 de outubro de 2019

Frente Brasil Popular
Frente Povo Sem Medo
CUT
Força Sindical
UGT
CTB
CSB

Intersindical

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