O ano de 1991, uma greve de 21 dias, 110 demitidos de maneira injusta e a história incrível da rede de solidariedade entre bancários da Caixa Econômica Federal. Durante o então governo de Fernando Collor de Mello, a ajuda financeira de 35 mil empregados do banco público permitiu que os dispensados em Belo Horizonte, Londrina e São Paulo sobrevivessem e continuassem a luta contra a ameaça de privatização. Na época, a mobilização culminou no movimento “Não Toque em Meu Companheiro”, com o pagamento do salário dos demitidos por um ano e 13 dias e até a reintegração dos 50 empregados paulistas, 30 mineiros e 30 paranaenses, em 1992, depois do impeachment do presidente autodenominado “o caçador de marajás” e de seu projeto econômico neoliberal e privatista.

Essa narrativa de solidariedade, resistência contra o retrocesso e de mobilização pela Caixa 100% pública e social, mostrado no documentário Não Toque em Meu Companheiro, da premiada cineasta Maria Augusta Ramos – a Guta, será exibido no sábado de 24 de abril, às 21h, e no domingo (25), às 14h. A exibição pelo Cine TVT é resultado da parceria com a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), que coproduz o filme.

Outros colaboradores da TVT são as Apcefs e entidades representativas do movimento sindical, cujo apoio fortalece o canal substituto da mídia tradicional. A TVT ostenta a quarta ou quinta posição no ranking de TVs na Grande São Paulo, com 650 mil inscritos no Youtube. “Nossa missão primordial, assim como a da plataforma em RDA, é focar mais no cenário do mundo do trabalho, ampliando a divulgação de notícias relacionadas a emprego, salário e ao cidadão de um modo geral”, explica Paulo Salvador, jornalista e vice-presidente do canal. A TVT surgiu em 2010, pois até então atuava apenas como uma produtora.  

Segundo ele, ao mostrar na tela conversa entre os empregados demitidos e a nova geração de trabalhadores da Caixa, centrada nas semelhanças entre Collor e Bolsonaro e suas tentativas de privatizar o banco público e retirar direitos dos trabalhadores, o roteiro de Não Toque em Meu Companheiro é um fato inédito. “O mundo inteiro merece saber que os empregados da Caixa protagonizaram um movimento de solidariedade que reuniu colegas de um mesmo banco, o único 100% público do país”, recorda. Há, também, a participação da filósofa Marilena Chauí e do economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, que falam sobre a flexibilização e as relações do trabalho.

O jornalista afirma ainda que, quem for assistir ao filme no Cine TVT, irá aprender muita coisa sobre a luta da classe trabalhadora, “além de que o material de Não Toque em Meu Companheiro apresenta muito boa qualidade de técnica cinematográfica: discute a conjuntura lá atrás, difunde fatos históricos e faz um paralelo com o momento presente”. Na avaliação de Paulo Salvador, o documentário é instigante, notadamente por discutir o papel público e social da Caixa. “E a TVT deseja estar ao lado desse grande público da Caixa Econômica”, resume.

Emoção
Não Toque em Meu Companheiro mescla cenas antigas do movimento grevista bancário, pronunciamentos de Fernando Collor e Jair Bolsonaro, além de manchetes de jornais de 1991. Como protagonistas, os empregados demitidos aparecem na atualidade, mais de 30 anos depois do episódio, reunidos em São Paulo, Londrina e Belo Horizonte, cidades nas quais ocorreram as dispensas e as gravações do filme.

No set de filmagem, foram muitos os reencontros emocionados. Trabalhadores que não se viam há anos se comoveram ao relembrar o cenário de desalento, a mobilização e a solidariedade dos colegas. As cenas estão reunidas em Não Toque em Meu Companheiro e conferem emoção e singularidade à obra.

“Esses momentos são o coração do documentário, pela beleza da história que os trabalhadores carregam, pela emoção do reencontro dos demitidos e pela urgência de falar sobre essa luta em um momento no qual os direitos dos trabalhadores voltam a ser atacados”, pontua a diretora Guta.

O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, reforça a tese de que Não Toque em Meu Companheiro traz um importante capítulo da história republicana brasileira de luta por direitos dos trabalhadores. “Vital para os novos empregados compreenderem que a história da Caixa é feita de mobilizações e conquistas. Contar esses acontecimentos, rever as pessoas, ouvir sobre o que cada um viveu e reafirmar a rede de união entre trabalhadores do banco são alguns do importante saldo captado pelo filme”, pondera.

Não Toque em Meu Companheiro foi elaborado em seis meses, tem 75 minutos de duração e é uma coprodução da Fenae e da Nofoco Filmes. A obra é licenciada pelo Canal Brasil. Seja qual for a perspectiva a ser analisada, o documentário estimula uma profunda reflexão sobre o Brasil, dentro do contexto nacional da época em paralelo com a conjuntura atual, com seus autores e suas motivações.

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