Em meio a grande mobilização das entidades representativas, sindicatos, parlamentares, sociedade e empregados da Caixa Econômica Federal, o banco público informou que o IPO (oferta pública inicial) da Caixa Seguridade está suspenso. A justificativa, de acordo com informe do banco divulgado nesta quinta-feira (24) a interrupção se deve à “atual conjuntura do mercado”.

“A Caixa Seguridade Participações S.A. (…) comunica ao mercado em geral que em razão da atual conjuntura do mercado sua controladora Caixa Econômica Federal (“CAIXA”) decidiu, nesta data, pela submissão à CVM de pedido de interrupção da análise da documentação referente ao registro da oferta pública de distribuição secundária de ações ordinárias de emissão da Caixa Seguridade (“Oferta”)”, informou o documento Fato Relevante.

Sem dar detalhes, o documento afirma, ainda, que “comunicará oportunamente ao mercado qualquer evolução dos assuntos relacionados à potencial Oferta e à sua admissão e listagem no Novo Mercado”. A oferta pública inicial do braço de seguros do banco foi retomada em agosto deste ano depois de uma suspensão, em março, justificada pela instabilidade das bolsas de valores e fuga dos investidores, provocadas pela pandemia.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, a boa notícia também é consequência da grande pressão e mobilização das entidades representativas e sindicais e dos empregados que defendem a Caixa 100% pública. “Para nós, empregados da Caixa, isso representa uma grande vitória. Porque a privatização da Caixa Seguridade representaria o primeiro grande passo da privatização da Caixa Econômica Federal”, explica.

“Desde que o governo anunciou, no dia 7 de agosto, a MP 995 – que autoriza a criação e venda de subsidiárias, a Fenae e diversas entidades têm se mobilizado para barrar essa medida. Nós não podemos permitir que o governo privatize a Caixa Seguros, a gestão de cartões, a administração de ativos de terceiros, as loterias e todas as subsidiárias que o governo quer criar para vender. Isso representará, na prática, a privatização da Caixa e um grande prejuízo a toda a sociedade brasileira”, avaliou Takemoto.

De acordo com o presidente da Fenae, a suspensão do IPO da Caixa Seguridade – quarto maior grupo segurador do país, vai dar fôlego para as entidades articularem ações junto à sociedade e ao Congresso Nacional para barrar a MP 995. Mas Takemoto diz que é preciso manter a atenção aos atos do governo e da direção da Caixa. “Temos que comemorar mas continuar atentos. Porque este governo não vai desistir de tentar privatizar a Caixa. Vamos continuar unidos, defendendo a caixa e dizendo não à MP 995. Mexeu com a Caixa, mexeu com o Brasil”.

A representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa (CA Caixa), Rita Serrano, também comemora. “Isso é fruto da resistência, da organização das entidades sindicais e associativas e também dos empregados, que carregam no DNA a missão pública e acreditam no papel público da instituição”. A conselheira explica que a instabilidade econômica no Brasil e no mundo é uma das justificativas dos seus votos no Conselho para impedir a abertura de capital da Caixa Seguridade.

“Venho votando contra todas as iniciativas que preveem a privatização das operações do banco porque entendo que, a médio prazo, vai enfraquecer a sustentabilidade da Caixa, que é uma das empresas mais importantes para o desenvolvimento do país e isto está provado, agora mais do que nunca, com o pagamento do auxílio emergencial”.

O deputado federal Zé Carlos (PT-MA), coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, destaca a atuação das entidades para impedir a privatização da Caixa. Assim como Takemoto, o deputado entende que a suspensão do IPO é apenas uma etapa vencida diante das intenções do governo em vender as empresas estatais.

“A interrupção da oferta de ações na Bolsa de Valores por parte da Caixa Seguridade é apenas uma das etapas. Acredito que o momento ruim da nossa economia, comprovado pela fuga de capital e de investimento estrangeiro, contribuiu com essa luta das entidades que são contrárias à privatização da Caixa, principalmente com as entidades representativas dos empregados desse nosso mais importante banco público”, disse o deputado. E ponderou: “Contudo, enquanto houver Bolsonaro no Governo, não só a Caixa mas todas as principais empresas públicas estarão sob ameaça de entrega ao capital que não tem pátria e que só visa o lucro produzido pelo suor e o sangue dos trabalhadores”.

O deputado acrescenta que os deputados e senadores membros da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos continuarão lutando contra a intenção do Governo de privatização da Caixa.

“Isto significa que nós ganhamos tempo para derrotar a Medida Provisória 995. Obviamente tem influência da conjuntura econômica mas, se a própria Caixa recuou, é mais uma demonstração do absurdo e do crime lesa-pátria que seria vender a Caixa Seguridade”, avalia a deputada Erika Kokay (PT/DF).  Ela explica que a intenção do governo é privatizar o que for possível durante a vigência da MP, mas a desistência da Caixa na abertura de capital do braço de seguros dá um fôlego para ampliar a discussão no Congresso. 

“A suspensão alimenta a nossa força e impede que o governo faça uma medida torpe e cruel de tentar, durante a vigência da MP, efetivar a privatização. O governo recua frente à pressão do movimento que a Fenae tem capitaneado. E a mobilização tende a crescer na medida em que o conjunto de parlamentares entende que a MP é para privatizar a própria Caixa, sem passar pela avaliação do Congresso”, explica Kokay. “Eu não tenho nenhuma dúvida que a maioria dos parlamentares é contra a privatização da Caixa. Vamos continuar na luta contra a Medida Provisória e esclarecer o que ela representa”.

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