Bancários suspendem greve heróica para que processo de negociação seja retomado

A maior greve nacional da história da categoria bancária completou 30 dias em 14 de outubro. Neste mesmo dia, os bancários decidiram suspender o movimento em todo o País, num recuo organizado para preservar a unidade da categoria e na tentativa de retomar as negociações.
Nestes 30 dias de greve, os bancários enfrentaram todo tipo de truculência e pressão: polícia, interditos proibitórios – até mesmo contra a APCEF/SP -, liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) exigindo unidades abertas, telegramas, telefonemas até para casa dos pais, ameaças… Os administradores de bancos públicos e privados utilizaram-se da Justiça, da força policial e de tudo o mais que puderam imaginar para obrigar os empregados a retornar ao trabalho.
“Enfrentamos todo tipo de barreira. Mesmo assim, os trabalhadores mostraram força e garra” – comentou a diretora-presidente da APCEF/SP, Fabiana Matheus. “Aguardamos, agora, uma solução negociada para o impasse” – completou.
Nova assembléia está marcada para dia 20, quarta-feira, a fim de organizar o Dia Nacional de Luta – marcado para dia 21, com manifestações e paralisações.
Na Caixa, os bancários devem usar vermelho no dia 20 em protesto à intransigência dos administradores do banco.

• Contec ajuíza dissídio

Não bastasse tudo o que fizeram, os banqueiros puderam contar também com um outro aliado. Setores com discurso de esquerda radical deixaram cair a máscara e mostraram a verdadeira face de direita, a serviço dos banqueiros.
De forma consciente, os “revolucionários” sabiam que a única forma de derrotar os bancários seria aproveitar-se da fragilidade causada por mais de 20 dias de greve e tentar dividir a categoria.
Aliados à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Contec), os “revolucionários” propuseram a ida ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) para entregar a maior greve bancária. No entanto, a maioria das assembléias rejeitou a manobra e decidiu manter a paralisação.
O setor desprezou a vontade dos trabalhadores, uniu-se à Contec – entidade velha conhecida dos bancários da Caixa, que representa menos de 10% da categoria – e ajuizou o dissídio.
Em 11 de outubro, a Contec enviou ao TST petições de dissídio coletivo do Banco do Brasil e Caixa.
A primeira audiência de conciliação aconteceu em 13 de outubro, sob a mediação do presidente do TST, ministro Vantuil Abdala.
A audiência, como era de se esperar, terminou sem nenhum resultado. Os bancos recusaram-se a fazer qualquer alteração em sua proposta inicial. A direção do Banco do Brasil apenas concordou em antecipar R$ 500 da segunda parcela de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e aceitou negociar a forma de desconto dos dias parados. A Caixa nem mesmo fez proposta, apostando no julgamento do dissídio.
O presidente do TST tentou fazer uma proposta intermediária: manteve o acordo da Fenaban e sugeriu R$ 1 mil de abono salarial, além da compensação dos dias parados. Foi recusada.
A Caixa informou, ainda, que pode solicitar a abusividade da greve e pretende descontar os dias parados. Aliás, em mais uma arbitrariedade, comandou o desconto de cinco dias de paralisação, no dia 20, dos grevistas.
O julgamento deve acontecer no dia 21, caso o processo seja analisado a tempo pelo relator, o ministro Antônio Barros Levenha-gen, e pelo Ministério Público do Trabalho.

• Ajuizamento de dissídio trouxe prejuízos aos trabalhadores

As entidades sindicais e associativas consideram que a negociação é a melhor saída para resolver o impasse.
Os bancários têm experiência acumulada de julgamentos anteriores que não recompuseram a inflação. Em muitos casos, o Tribunal decidiu, até mesmo, por um reajuste inferior à proposta patronal original.
Uma das principais conquistas dos bancários, fruto da luta de anos, foi o afastamento da Justiça do Trabalho das negociações.
Não existe legislação alguma que determine reajuste salarial, muito menos aumento real, nem reposição da inflação. Além disso, a Justiça, normalmente, não interfere em cláusulas sociais nem Participação nos Lucros e Resultados.
Em 1991, o TST julgou a greve da Caixa não-abusiva, mas deixou o pagamento dos dias parados a critério da empresa. Os funcionários decidiram manter o movimento e 110 empregados foram demitidos por justa causa.
Em 2000, a Justiça determinou zero de reajuste e produtividade. Os empregados receberam apenas abono.
“Não podemos deixar que, após uma greve histórica de 30 dias, o TST e a Contec decidam por nós. Esperamos uma solução negociada!” – concluiu a diretora-presidente da APCEF/SP.

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