Confira depoimentos do atual presidente e de ex-presidentes da Fenae sobre os 50 anos de organização e mobilização da entidade.

Sergio Nunes da Silva _ex presidente da Fenae
Sérgio Nunes da Silva: Apcef/RS – Gestão 1986-1993

“Participei da gestão da Fenae no período de 1986 a 1993. Minha eleição para presidente se deu pelo CDN, composto pelos presidentes das Apcefs e ocorreu em decorrência da participação da Apcef/RS no movimento pela luta das seis horas, onde eu ocupava a presidência da associação gaúcha, representando um compromisso de companheiras e companheiros, muito deles oriundos do movimento dos Escriturários Básicos (EBs – empregados admitidos pós-78).

“Ao assumir a Fenae, e durante a luta pelas seis horas e pelo direito à sindicalização, vigorava o entendimento de que era fundamental que a Fenae, para que se tornasse um forte instrumento de luta dos empregados da Caixa, tivesse uma relação direta com a base. Inicialmente, foi difícil. Tivemos uma experiência ruim na greve dos bancários em 1986, que foi um aprendizado e determinante para que os empregados da Caixa tivessem uma organização própria, a partir da Executiva Nacional dos Empregados da Caixa, apoiada e centrada na estrutura da Fenae.

“Para obter a relação direta com os empregados da Caixa, o Jornal da Fenae passou a ter edição mensal e foram criados eventos esportivos e culturais, como Dobradinha da Fenae, Jogos da Fenae, Festival de Música (Fenec), Festival de Teatro (Fenarte). A principal e fundamental mudança, para que a Fenae passasse a ter um envolvimento direto com a base, foi a implantação do novo Estatuto em 1989 com eleições diretas, sendo a primeira Federação no país a escolher sua direção pelo voto direto dos associados.

“No campo político, a Fenae passou a ser referência no movimento sindical como uma entidade de luta, com atuação importante para vitórias e conquistas expressivas para a categoria. Os três mandatos na direção da Fenae, durante o período de 1986 a 1993, tiveram a colaboração inestimável de valorosos companheiros e companheiras, que foram de fundamental importância na gestão da Fenae. Um dos destaques dessa época, além da campanha em defesa da Caixa pública, foi a readmissão de 2.500 empregados concursados antes do governo Collor e demitidos por Lafaiete Coutinho (então presidente da Caixa), em 1990, mas readmitidos na campanha salarial daquele ano.

“Registre-se ainda a luta histórica pela reintegração dos 110 empregados demitidos em 1º de outubro de 1991 pelo governo Collor, quando a Fenae, juntamente com as Apcefs, lançou a campanha “Não toque em meu companheiro”, conseguindo a adesão de aproximadamente 35 mil empregados que doaram um dia do auxílio-alimentação. “Durante um ano, houve mobilização para manter financeiramente os companheiros e companheiras demitidos, numa demonstração de união da classe trabalhadora. Na época, foi criada uma comissão dos empregados demitidos, que muito contribuiu com a organização da luta. A readmissão dos 110 empregados veio a acontecer após o impeachment do Collor”.

Carlos Alberto Caser _ex presidente da Fenae _ gestao 1993-1999
Carlos Alberto Caser: Apcef/ES – Gestão 1993-1999

“A Fenae foi criada por um grupo de idealistas e visionários, bem verdade que os tempos eram outros, mas ainda assim havia necessidade de um espaço de reivindicações, de um lugar de lutas. Creio que o momento mais marcante de toda a trajetória da Fenae, que tive oportunidade de assistir e participar, foi a luta pelas seis horas e pelo direito à sindicalização, combinada com o enquadramento dos Auxiliares de Escritório. Isso foi nos anos 1980, uma luta vitoriosa que marcou a Fenae para sempre.

“Nos anos 1990, a Fenae esteve na linha de frente contra o desmonte da Caixa, patrocinado pelo governo FHC. Foram anos terríveis, com reajustes zero, zero contratações, fechamento de agências, descomissionamentos. Anos de dificuldades, de greves fracassadas, de perseguições, de muita luta para manter a Caixa 100% pública. Agora estamos assistindo ao mesmíssimo filme, um governo que quer destruir a Caixa, um governo sem rumo, sem propostas, sem caráter, sem nada. Espero que a Fenae honre sua história e continue – agora que completa 50 anos de lutas – na batalha incansável para defender a Caixa pública e os interesses de seus empregados. Todo o resto é importante sim, mas isso é o essencial”.

Carlos Augusto Borges _ex presidente da Fenae _ gestao 1999-2003
Carlos Augusto Borges: Apcef/MA – Gestão 1999-2003

“Fui o primeiro e único nordestino, até então, a presidir a Fenae, entre 1999 e 2003, quando fui exercer a função de vice-presidente da Caixa, onde fiquei até 2011. Depois fui para a Funcef, ficando até 2016. Vim para exercer mandato na Fenae de diretor de Esportes, depois de um processo eleitoral. Fui diretor da Apcef/MA de 1986 a 1990, e depois presidente até 1993, até vir para Brasília. E, junto com os demais membros da Diretoria da Fenae, passamos os piores momentos à frente da Federação, durante as gestões do Itamar Franco/Danilo de Castro/José Fernando e de Fernando Henrique Cardoso/Sérgio Cutolo/Emílio Carazzai/Valdery, com grandes reestruturações na Caixa e sem reajustes salariais, implementação da política de abonos, retaliações contra o movimento associativo.

“O maior ataque veio contra a Fenae Corretora, hoje Wiz. O Carazzai tinha tanto ódio da Fenae e do movimento dos empregados que tentou tirar a Corretora do balcão da Caixa. Foi convencido a não adotar a medida, devido a impactos negativos nos resultados da Caixa, através dos produtos de seguro. Nesse período, a gestão Carazzai vendeu para a empresa francesa CNP Assurances a participação da Funcef na Caixa Seguros. 

“Entramos com ação e tivemos uma liminar suspendendo a transação, mas a medida foi derrubada e a operação, concluída. A Fenae tinha 1% das ações da Caixa Seguros, depois vendidas para os franceses, evitando que virassem pó. Registre-se ainda que a Fenae chegou a ficar sem recursos para honrar os salários dos funcionários. Tivemos que recorrer a empréstimo bancário e adiantamento do resultado da apólice Preferencial Vida, exclusiva para empregados da Caixa. Honrar o compromisso com os funcionários sempre foi e continua sendo sagrado para os dirigentes da Federação.

“Foi um período de muita luta e resistência. A Fenae passou a ser uma referência aos movimentos sociais, como MST, Central dos Movimentos Populares (CMP) e Federação Única dos Petroleiros (FUP), exercitando a solidariedade de classe em apoio a diversas categorias profissionais em luta. Com a assunção do governo Lula à frente do Brasil, a vida tornou-se melhor para a Fenae, empregados da Caixa, assim como para toda a classe trabalhadora. Hoje, vivemos tempos de obscurantismo, negacionismo, perseguições e ataques à democracia. O povo e a classe trabalhadora brasileira, organizados, saberão dar a devida resposta”.

Jose Carlos Alonso _ex presidente da Fenae _ gestao 2003-2008
José Carlos Alonso: Apcef/SP – Gestão 2003-2008

“A fundação da Fenae em 1971 ocorreu em um momento muito peculiar, com mudanças profundas nas condições dos empregados da Caixa. A unificação das Caixas Econômicas nos estados, dando lugar à Caixa Econômica Federal, ocorrida no ano anterior, veio acompanhada da mudança do regime de contratação dos seus empregados: passaram de funcionários públicos federais para empregados regidos pela CLT.

“Com a unificação da Caixa, era inevitável a criação de uma entidade nacional que congregasse as associações estaduais que já existiam e que fortalecesse o movimento associativo nacional. Até então, os empregados da Caixa eram proibidos de se sindicalizarem e a jornada de trabalho era de oito horas, diferente dos demais bancários, cuja jornada era de seis horas. Algumas associações e a Fenae tiveram atuação importante no movimento que reivindicava o direito à sindicalização junto ao Sindicato dos Bancários e a jornada de seis horas, culminando com a primeira greve nacional dos empregados da Caixa, em 30 de outubro de 1985.

“Desde então a defesa da Caixa como banco público e de caráter social é uma pauta permanente na agenda da Fenae. A entidade não se limita ao seu caráter de classe, atuando em ampla variedade de ações, tendo como missão a promoção do bem-estar dos empregados da Caixa. Seja organizando atividades ou apoiando as Apcefs, incentiva os esportes nacionais e regionais, a cultura, atividades sociais, formação e comunicação e ações de responsabilidade social”.

Pedro_Eugênio
Pedro Eugenio Beneduzzi Leite: Apcef/PR – Gestão 2008-2014

“Fui presidente da Fenae de 2008 a 2014. Um período de grandes investimentos nas Apcefs, com construções de ginásios poliesportivos, apartamentos nas sedes de praias, hotel-fazenda, sede pesqueira.

“Em um período no qual clubes tradicionais tiveram muitas dificuldades, alguns sendo definitivamente fechados, todas as Apcefs cresceram e melhoraram suas instalações. Investimos muito também na área de esportes, com Jogos Regionais e os Jogos da Fenae de 2008, 2010 e 2012. Neste período também promovemos uma grande mudança na Fenae Corretora, que deixou de ser uma empresa apenas da Fenae e Apcefs para receber novos sócios, a holding da Caixa Seguridade é o grupo de investimentos GP. Esse movimento levou à abertura de capital em 2015, com ações vendidas na Bovespa e a mudança do nome para Wiz.

“Na área de representação dos trabalhadores da Caixa, atuamos sempre em unidade com a Contraf/CUT e sindicatos filiados. De 2008 a 2014, conquistamos reajustes salariais acima do INPC todos os anos. Conquistamos também a unificação do Plano de Cargos e Salários (PCS), em 2008, e o Plano de Funções Gratificadas (PFG), em 2010”.

Jair Pedro Ferreira
Jair Pedro Ferreira: Apcef/DF – Gestão 2014-2020

“O período que estive à frente da Fenae foi de 2014 a 2020. Foi um período de grandes mudanças no país e a Fenae teve de se adaptar aos desafios, buscando atuar sempre de olho no futuro da Caixa, do Brasil e da classe trabalhadora. Foram seis anos de atuação intensa, juntamente com os diretores e empregados da Federação, momento em que houve a execução de projetos para aproximar cada vez mais a entidade dos empregados da Caixa e dos associados das Apcefs. Mas, sobretudo, foi um período de resistência e luta contra os ataques sofridos pela Caixa.

“É preciso registrar ainda que, entre 2003 e 2015, a Caixa cresceu e dobrou de tamanho. Calcamos nosso trabalho tendo como prioridade a defesa da Caixa como uma empresa pública importante para o país. Também não nos furtamos das pautas que são relevantes para a sociedade, como as questões da moradia popular, do meio ambiente, das minorias indígenas e raciais, dentre outras. Essa atuação tem nos fortalecido bastante. Saber que, hoje, esses segmentos têm a Fenae como referência é muito gratificante.

“Criamos a Rede do Conhecimento e implantamos o projeto Inspira Fenae, com aumento da interação com a Rede do Conhecimento. Remodelamos o projeto Talentos Fenae/Apcef e mantivemos os Jogos Fenae, assim como realizamos campanhas em defesa da Caixa. Essa atuação, abrangente e plural, reflete a característica das entidades dos trabalhadores. Conseguimos passar por esse período de ataques a tudo o que é público, com a Fenae saindo fortalecida e cada vez mais representativa”.

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Sergio Takemoto – Apcef/SP – Gestão 2020-2023

“Assumimos a Fenae em 30 de abril de 2020, em plena pandemia causada pela Covid-19, para mandato no período de 2020 a 2023.  O desafio desta gestão será a defesa do caráter público da Caixa e por melhores condições de trabalho para todos os empregados, em meio a uma crise sanitária mundial que mudou as relações sociais e tem provocado muitas perdas para as famílias. Ao longo de todo o mandato, será dada continuidade ao que foi realizado pelas gestões anteriores. A Fenae se manterá lutando por uma Caixa pública, de caráter social, mais forte e que valorize os empregados do banco. Também irá atuar todos os dias para promover o bem-estar da categoria e oferecer benefícios exclusivos.

“Uma das maiores tarefas será mostrar para a população e empregados os prejuízos da venda de um patrimônio público como a Caixa. Em 2020, a Medida Provisória 995, enviada ao Congresso para privatizar a Caixa, foi vencida, mas temos que nos manter alertas para novas investidas contra o banco, de modo a seguirmos na defesa dos direitos dos empregados, da manutenção das empresas públicas e da Caixa 100% pública.

“Nada disso poderá ser feito sem aprofundar ainda mais a aproximação com as Apcefs. Vamos ampliar o diálogo com as Associações de Pessoal da Caixa, para permitir a realização de mais atividades regionais e, consequentemente, atrair novos associados. Entidades fortes e empregados ao lado de seus representantes são essenciais para derrotar a ideia nefasta de privatização e fatiamento do banco”.

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