Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade “a bunda, que engraçada, está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se”.

Boa imagem para constatar que o contorno de 2015 é de sempre sorrir e de basta-se, quando o olhar limita-se às manifestações da FUNCEF e de alguns de seus porta-vozes. A Fundação parece balançar harmoniosamente sobre o caos.  

Encobertos por alguns exercícios, os déficits que se arrastam desde 2011 são agora jogados exclusivamente em conta da conjuntura. Recentemente, a Fundação se deu ao trabalho de justificar algumas de suas opções de negócios. Só que transparência deve ser mais que murmurar em algum canto do portal. O compromisso com o debate, que se construía desde 2003, ficou pelo caminho, ao que parece.

O Contencioso, roçando a casa da dezena de bilhões de reais, tem merecido tratamento de mera rubrica contábil. Demandas judiciais também não nascem da conjuntura. Seu volume enquadra-se na conta da omissão quanto às iniciativas da gestão. Buscar o ressarcimento de perdas causadas faz parte das atribuições do gestor. Mas, além de não existirem providências da direção executiva, o Conselho Deliberativo da FUNCEF, provocado para o tema, senta-se há três meses em voto relativo as cobranças.

Acomoda-se, aqui, o interesse da patrocinadora.

O equacionamento do déficit, necessidade tratada à base da máxima de que se continuar assim há que se fazer alguma coisa, tornou-se imperativo. No entanto, a estratégia escolhida para solucioná-lo foi a de se alterar a legislação. Em outras palavras, criar um meio para que o déficit não seja eliminado tão cedo. Basta empurrá-lo. Ótimo para a patrocinadora, sempre isenta de riscos.

Há que se reconhecer, neste aspecto, nenhuma surpresa. A FUNCEF, em nota de dezembro de 2014, mencionou gestões para mudanças, segundo sua expressão, “no marco regulatório”, evitando o que classificaria como “cobranças adicionais à patrocinadora e participantes, desnecessariamente”.  Desnecessariamente?!

Regra alterada ou não, o fato é que não houve em nenhum momento, durante os últimos doze meses, qualquer esclarecimento ou consulta aos participantes a respeito de nada.
A postura se mostra coerente à quase perfeição que a FUNCEF atribui a si própria, segundo editorial de sua revista. É a revelação de quão dispensável é o participante, a quem cabe limitar-se a contribuir.

Solução para o déficit, cobrança à Caixa de sua responsabilidade pelo contencioso, opção quanto à forma e tempo para o equacionamento. Mais que isso, governança, voto de desempate, comitês de investimentos fazem parte da lista de reivindicações ignoradas pela FUNCEF e pela patrocinadora.  

Os primeiros três meses de 2016, novo prazo para apresentação do critério ao equacionamento, devem ser decisivos a esse debate. É hora de campanha, e campanha tal qual o esforço em cada data-base. Os participantes, ativos e aposentados, têm direito a tudo isso, mas só serão ouvidos se forem pra cima.  

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