Surpresa?

Ao anunciar o balanço com os resultados de 2016 em coletiva de imprensa realizada no dia 28 de março, a direção da Caixa alegou surpresa perante a queda de 41,8% em seu lucro na comparação com 2015. Esta redução gerou grande impacto na PLR (Participação do Lucro e Resultados) recebida pelos empregados.

A Caixa não ouve a Caixa

Apesar de reconhecer que a queda é consequência da crise econômica – mesmo sem apontar a política neoliberal empregada pelo governo Michel Temer como a causa – o banco apresentou seus resultados demonstrando surpresa. Na nota distribuída aos empregados na qual justifica a queda do lucro, a administração argumenta que “a contratação de crédito caiu mais de 12%”.

No entanto, seria bom que a direção da Caixa recordasse o que seu presidente, Gilberto Occhi, declarou à grande imprensa no meio do ano passado.

Logo após assumir o comando do banco, Occhi concedeu entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (Estadão) em 11 de junho de 2016 onde afirma que a instituição financeira não teria como continuar crescendo na geração de crédito e que havia chegado a uma “curva de declínio”. “Agora nossa curva de desaceleração está coincidindo com a do mercado”, disse ao jornal.

Na mesma entrevista Occhi ainda conta que a Caixa “entrou em linhas que não tinha expertise, como crédito rural e financiamentos a grandes empresas”. Assim, a política da instituição foi direcionada à redução do crédito, especialmente em operações à pessoa jurídica.

Em outubro do mesmo ano, o presidente do banco declarou ao The Wall Street Journal que a Caixa estava sendo afetada pela crise e chegou a citar a possibilidade de um aporte do governo se tornar necessário. A venda de ativos e serviços também foi cogitada por Occhi em todas as entrevistas.

Previsão insatisfatória

Mas talvez o que tenha provocado a surpresa foi a direção da Caixa fazer projeções ignorando completamente a conjuntura que ela própria havia constatado. Contraditoriamente, o presidente do banco, na mesma entrevista ao Estadão, estimou um aumento de 7,5% no crédito e disse crer que a economia do último trimestre de 2016 apresentaria tendência de crescimento. Previsão não tem sido o forte da Caixa. Errar 41% no resultado, convenhamos, não é surpresa.

Oportunismo

Mesmo reconhecendo que a crise econômica é responsável pelo resultado obtido pela Caixa em 2016 – além, claro, do redirecionamento da própria empresa – a direção jogou parte da culpa nos empregados. Apontou os gastos com pessoal como um dos motivos do balanço negativo. E na nota direcionada aos empregados culpou ainda a greve ocorrida no mês de outubro.

Desde sua posse, Occhi também afirmou em diversas oportunidades que seu objetivo era a redução de custos por meio de cortes em postos de trabalho e a realização de programa de demissão, além do fechamento de cerca de 100 agências consideradas “deficitárias”.  Agora, a direção do banco aproveita a situação para argumentar em favor de seu plano de cortes e atacar tudo o que puder. Com isso, a direção quer fragmentar a empresa, fechar unidades, desestruturar por dentro, cortar direitos no Saúde Caixa, não assumir responsabilidade no contencioso da Funcef.

Fortalecer a Caixa é mera ilusão sob a gestão Temer/Occhi.

Só os trabalhadores é que conseguirão garantir a continuidade da Caixa.

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