A repercussão na sociedade das denúncias de assédio por parte do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, continua. Nos meios de comunicação, as grandes redes de TV dedicaram parte importante de seus periódicos dominicais (Fantástico e Domingo Espetacular) ao assunto – o primeiro, com novas declarações de vítimas e com parte do histórico da luta dos trabalhadores contra o assédio no banco, e o segundo, com uma entrevista exclusiva com a indicada à presidência no lugar de Pedro Guimarães.

Hoje (4/7), a nova presidente, Danielle Marques, convocou uma live com os empregados. Causou preocupação entre os colegas tanto o que foi dito pela dirigente quanto o que deixou de dizer. Quando diz que se deve “virar a página rapidamente”, há evidente confusão entre a (necessária) celeridade na apuração dos fatos com a tática de invisibilizar o assunto (não falar de um problema para que, assim, todos passem a agir como se o ele não existisse). A consequência da tática da invisibilização, como regra, é a impunidade de quem praticou as condutas impróprias. No mesmo dia, na Globonews, a presidente também falou frases dúbias, dizendo que “não se pode mais ficar falando sobre isso”. Na Globonews, também disse que “esta página está virada”, e “eu preciso isolar isso e seguir o dia a dia porque a gente tem que gerar negócios e gerar resultado para o banco”.

Foi frequente a promessa de se “criar um canal de diálogo direto comigo”, “montar um grupo permanente para apuração”. Fez diversas ressalvas ao fato de que é necessário ter cuidado na apuração e não realizar pré julgamentos, o que é absolutamente incoerente com a prática da própria Caixa, que tem aumentado bastante a punição a empregados, inclusive com diversas reclamações de limitação ao direito da ampla defesa. Ou seja, quando se trata de denúncias contra dirigentes, é necessário cuidado para apurar; quando as denúncias são contra os demais empregados, a conversa é bem diferente.

“A impunidade (ou pior, a transferência da culpa do agressor para a vítima), enfraquece instrumentos de combate às formas de violência organizacional como assédio moral e sexual, transmitindo à todos uma mensagem que desencoraja outras vítimas a denunciarem as condutas, contribuindo para perpetuar a prática”, relata Vivian Carla de Sá, dirigente da Apcef/SP e do Sindicato, e representante na mesa de negociação com o banco. “Por isso, é necessário que avançarmos na pauta do combate ao assédio, e estes fatos comprovam que é fundamental a participação dos representantes dos empregados nos processos de apuração, como estamos reivindicando”.

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