O turbilhão midiático que tomou conta da Caixa Econômica Federal desde o fim da semana passada mostrou a ponta do iceberg das mazelas que os trabalhadores do banco enfrentam desde o início desse governo.

As denúncias de assédio sexual contra o agora ex-presidente da instituição Pedro Guimarães precisam servir de alerta para que as devidas medidas para garantir condições básicas de trabalho – há tanto tempo necessárias – sejam implementadas com urgência.

O primeiro passo nesse momento, claro, é que as acusações contra Guimarães sejam investigadas com prontidão e rigor. Assédio sexual é crime, e as vítimas merecem justiça – tanto as que já se manifestaram, como outras que podem agora ser encorajadas a ir a público.

Para isso, o segundo passo é um urgente fortalecimento dos canais de denúncia dentro da Caixa. Apenas com um sistema de ouvidoria e recursos humanos seguro e bem estruturado, que priorize o bem-estar dos trabalhadores, será possível evitar que surjam novos casos como os relatados.

Desde que o governo Bolsonaro começou, a Fenae vem chamando a atenção para a deterioração do ambiente de trabalho da Caixa.

Após fazermos campanha de vacinação e pedidos de melhores condições para os empregados durante a pandemia, fomos recebendo mais e mais relatos preocupantes sobre as pressões sofridas pelas equipes, com cobranças de metas e cargas horárias abusivas.

Decidimos, então, fazer uma pesquisa para avaliar a saúde mental dos trabalhadores, com entrevistas a mais de 3 mil pessoas (aposentadas e na ativa). Os resultados foram estarrecedores.

Burnout

Segundo o levantamento, seis em cada 10 funcionários da Caixa disseram ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho. Entre os empregados da ativa, 56% relataram ter passado por esse tipo de assédio e 70% já testemunharam algum caso.

Isso se reflete, claro, na saúde mental. De acordo com os dados de fevereiro, 6% dos trabalhadores estavam afastados por licença médica. O principal motivo são as doenças mentais: 33% estão afastados por depressão, 26% por ansiedade, 13% pela síndrome de burnout e 11% por síndrome do pânico.

Tais condições precárias de trabalho são agravadas se levarmos em consideração a atual defasagem de pessoal no banco. Em 2020, o Ministério da Economia autorizou o aumento do quadro de 84.544 para 87.544 empregados até o ano seguinte.

Em outubro de 2021, a Caixa ainda estava com 1.772 a menos do total autorizado. Guimarães chegou a anunciar que 10 mil vagas seriam abertas, mas a promessa nunca se concretizou.

Com isso, o número de clientes por empregado subiu para 1.775, segundo estudo do Dieese. Em 2018, eram 1.070.

O que nos resta agora é lutar para que a nova gestão da Caixa tenha mais sensibilidade e compromisso com aqueles que representam a força-motriz do banco: os empregados.

Não podemos tolerar que horrores como os ocorridos durante a presidência de Pedro Guimarães se repitam. Só dessa forma poderemos preservar a saúde e segurança dos trabalhadores, assim como a credibilidade dos 161 anos da história de sucesso da Caixa.

* Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

Esse artigo foi publicado originalmente no Jornal Metrópoles, no dia 06/07/2022

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