Por não haver motivo para a empregada e o empregado da Caixa Econômica Federal sofrerem sozinhos de problemas mentais em situações de desemparo no ambiente de trabalho, marcadas por metas desumanas e jornadas exaustivas, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) retoma a divulgação do e-mail naosofrasozinho@fenae.org.br e denuncia o modelo de gestão do banco público que adoece trabalhadores, por incitar o assédio moral e negligenciar os casos de transtornos mentais nas agências e outras unidades.  

É por isso que a Fenae e as Apcefs abraçaram a causa da prevenção ao adoecimento mental no dia a dia do trabalho na Caixa, traduzida na campanha “Não Sofra Sozinho”, que foi lançada em setembro de 2018. O objetivo é debater o impacto da reestruturação do banco público em suas diversas formas para a saúde mental dos empregados, além de discutir estratégias em torno de um serviço de assistência ao bancário em sofrimento, realizando, quando necessário, pesquisa qualitativa com os trabalhadores. É que, de um lado, existe a busca por ajuda do pessoal da Caixa diminuído pelo preconceito e, do outro, aparece a demanda por acolhimento, informação, ciência, cuidado e cura.  

Na Caixa e em outros ambientes de trabalho, com ênfase para o período da pandemia, os sinais de que há um problema de saúde mental acontecendo podem variar bastante dependendo do tipo de distúrbio, das circunstâncias, de muitos fatores. Mas sempre vale ficar atento se algo persistente ocorrer. Como o transtorno mental é a terceira causa de afastamento do trabalho no país, o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, cobra políticas públicas de saúde, preventivas e não reativas, para enfrentar situações dramáticas de adoecimento no setor bancário. “Os trabalhadores da Caixa precisam de um ambiente saudável, sem sobrecarga de trabalho, assédio moral e sem medo de demissão sumária, para contrapor-se a um verdadeiro quadro de adoecimento crônico na categoria”, reitera.  

A falta de políticas eficazes por parte da atual gestão da Caixa, para reforçar a saúde mental dos trabalhadores, também preocupa. Segundo Sergio Takemoto, os empregados estão sob um forte estresse, sobretudo durante a pandemia do coronavírus. “O pagamento do auxílio emergencial, concentrado exclusivamente na instituição, tem provocado alguma aglomeração nas agências, trabalho em ambientes com alto risco de exposição, relatos de bancários infectados, vítimas fatais e medo de contaminação”, critica.  

O presidente da Fenae lembra que a pandemia intensifica o sofrimento e provoca o surgimento ou a piora da depressão, alterações do sono, ansiedade e outras síndromes de esgotamento profissional. Há ainda, de acordo com ele, o estresse pós-traumático, que acontece nos casos agudos de traumas, nos quais o trabalhador revive o medo e as situações enfrentadas. “Síndromes dessa natureza podem incapacitar o bancário”, protesta. 

Um em cada três ou quatro empregados da Caixa está sofrendo de algum tipo de problema dessa natureza, conforme atesta pesquisa realizada há mais de um ano. Infelizmente, porém, o tema continua atrelado a tabus ultrapassados, que só pioram o sofrimento de enfrentar essas situações. É justamente para quem está precisando que a campanha “Não Sofra Sozinho” da Fenae, coordenada pela psicóloga Ana Magnólia Mendes, pós-doutora e professora da Universidade de Brasília (UnB), oferece a atenção e o pioneirismo de um projeto de prevenção a psicopatologias do trabalho e o acolhimento dos trabalhadores nos casos de assédio moral e sofrimento mental, sempre com o olhar voltado para o bem-estar do pessoal do banco, o único 100% público do país.  

Outro objetivo da campanha “Não Sofra Sozinho” é subsidiar os dirigentes da Fenae e das Apcefs a proporem políticas e práticas sindicais e institucionais eficientes de prevenção das psicopatologias do trabalho. 

Fabiana Matheus, diretora de Saúde e Previdência da Fenae, explica que a campanha “Não Sofra Sozinho” busca criar uma rede de proteção entre trabalhadores da Caixa. “Promover a solidariedade e o estímulo para que cada um possa olhar para os lados e enxergar o sofrimento de colegas”, afirma. Segundo ela, um dos propósitos do projeto é propor ações sindicais que tenham como alvo a prevenção de agravos à saúde, por meio da mobilização por melhores condições de trabalho.  

A dirigente diz que, como o sofrimento do empregado tende a se potencializar nesse momento de pandemia, a Fenae está atenta para auxiliar no que for preciso, buscando debater a questão da saúde mental dos trabalhadores em atividade e aposentados da Caixa.  

:: Para denunciar um abuso psicológico ou a violência no ambiente de trabalho, a orientação é para que a empregada ou o empregado procure a Apcef e/ou o Sindicato dos Bancários da região de trabalho. A Fenae, por outro lado, criou um e-mail para receber relatos dos bancários, notadamente em momento difícil para todos os envolvidos. Basta, para isso, enviar a mensagem para naosofrasozinho@fenae.org.br.

Compartilhe: