Em seus 157 anos de existência a Caixa sempre esteve vinculada ao projeto de governo de determinada época. O nascimento, no Império, cumpriu a função de tentar aproximar D. Pedro II de segmentos mais pobres, em meio a movimentos contra a monarquia. No governo de Getúlio Vargas a instituição se tornou o banco do crédito e do financiamento público a fim de promover a industrialização no País, reinvindicação da burguesia industrial que defendia uma intervenção clara do Estado nesse sentido. A Caixa foi uma das financiadoras da construção de Brasília, promessa do governo de JK. Com o objetivo de centralizar o controle sobre os recursos dos Estados e aumentar sua dependência do governo central, o governo militar unificou todas as Caixas, tornando-a uma empresa federal, com capilaridade nacional, inclusão de novos serviços (como a habitação e o FGTS) e ganhando mais influência no contexto macroeconômico. Nos governos liberais de Collor a FHC o banco encolheu drasticamente para dar mais espaço ao sistema financeiro privado e internacional, que dessa forma eliminava a concorrência, e as consequências foram o aumento da pobreza e baixas taxas de crescimento no País. Nos governos desenvolvimentistas de Lula e Dilma a Caixa voltou a crescer e se tornou o principal operador dos programas sociais e das políticas públicas brasileiras e um dos maiores bancos públicos do mundo.

E agora? Qual é o papel e o destino da Caixa nesse aniversário de 157 anos? Depois do golpe de 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, o movimento de privatização ganhou folego, e o objetivo do governo Temer e da maioria do Congresso Nacional é privatizar todo o patrimônio público. Para isso não se medem esforços, e a privatização de mais de 50 empresas nacionais já foi anunciada, na contramão do que maioria do povo brasileiro quer, como comprovado em pesquisa recente do Datafolha, que mostrou que 67% é contra a venda das estatais. Uma decisão que conta com o apoio da grande imprensa que, de forma incisiva, vem desgastando a imagem das empresas públicas, em um claro conluio com as multinacionais privadas. Com relação à Caixa, o governo tentou torná-la S/A, mas os empregados, a sociedade organizada e as entidades sindicais e associativas não permitiram. Porém prosseguem a privatização das operações, encolhimento da estrutura com corte de empregados, diminuição de agências e áreas intermediárias e a aproximação, cada dia mais evidente, com o modelo de atendimento do sistema financeiro privado, com segmentação de clientes, aumento na taxa de juros e tarifas.

Essa política de desmonte no banco que nas últimas décadas esteve à frente do desenvolvimento do Brasil já mostra seus primeiros resultados: aumento da pobreza, do desemprego e diminuição do investimento público. Somente para efeito comparativo, basta analisar o balanço dos três maiores bancos públicos – BNDES, BB e Caixa – até setembro de 2017 para entender que o caminho adotado pelo atual governo despreza o investimento no que é público; ou seja, acessível a todos os brasileiros. Esse balanço mostra que, juntos, os três bancos tiveram uma queda de R$ 46 bilhões nos investimentos para os Estados, municípios e empresas estatais. Só a Caixa, por exemplo, deixou de financiar R$ 5,8 bilhões. Essa é uma escolha política, dos que hoje comandam o País, e só vai mudar pelo caminho das urnas, a partir da decisão de cada brasileiro ao exercer democraticamente seu direito ao voto.

A realidade está colocada: a definição do futuro do Brasil, dos brasileiros, das empresas públicas e da Caixa depende de qual modelo de Estado queremos ter, e essa com certeza será a grande questão desse ano de 2018, quando serão realizadas eleições. Queremos um banco público, impulsionador de serviços, programas sociais e realizações que colaborem com a redução da desigualdade ou queremos um banco nos mesmos moldes dos tradicionais, sem compromisso com o povo brasileiro e cujo objetivo é apenas a lucratividade? Embora para um grande número de pessoas nem sempre seja possível perceber, política e economia estão sempre vinculadas, e este talvez seja um dos momentos em que essa associação se dá de forma claríssima, impossível de ser ignorada. Os empregados da Caixa, que vêm acompanhando parte da história da empresa em seu dia a dia, sabem bem a importância desse vínculo e, mais ainda, conhecem sua própria capacidade de organização e resistência para buscar dias melhores na destinação do banco e em seus direitos como trabalhadores.

É com essas reflexões e votos de parabéns a todos que ajudaram a construir esses 157 anos de história da Caixa que encerro esse artigo, cuja pesquisa histórica é baseada no livro “Se é público é para todos”, que tive a honra de escrever junto com Emir Sader, Fernando Nogueira e João Moraes e será lançado em abril. Coube a mim resgatar e escrever sobre a história dos 157 anos da Caixa, missão da qual muito me orgulhei e que, espero, traga subsídios para compreensão dessa trajetória e abra novos capítulos protagonizados pela luta dos empregados do banco por uma Caixa pública e para todos os brasileiros.

Rita Serrano é representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, diretora da Fenae e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas. É mestra em Administração

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