Especialistas da área de saúde são taxativos ao afirmar que, dentre outras medidas, o distanciamento e boa ventilação no ambiente de atendimento bancário são fundamentais para diminuir os riscos de contaminação pela Covid-19. Mas estes protocolos não estão garantidos nas agências da Caixa, principalmente durante o pagamento do Auxílio Emergencial. Pesquisa e denúncias de empregados apontam descumprimento das regras, o que reforça a defesa da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) na campanha Vacina Já, que cobra a vacinação em massa dos brasileiros e a inclusão dos empregados no grupo prioritário para receber o imunizante.

A vacina é, hoje, a única solução para controlar a pandemia. Parece óbvio, mas desde o início dos primeiros testes das vacinas, em maio de 2020, uma avalanche de (des) informações, além do negacionismo do próprio governo, colocou em xeque a importância da imunização. O sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, explica que outras soluções para controle da Covid-19 eram possíveis no início da pandemia, mas as medidas não foram adotadas pelo Governo.

“Caso houvesse um plano nacional que incluísse o lockdown, nós poderíamos ter controlado melhor a pandemia. Eram soluções possíveis que o Brasil jogou fora”, avaliou.  “Sem qualquer ação nacional que fizesse distanciamento entre as pessoas e mantivesse o funcionamento apenas das atividades essenciais, então as perspectivas que nós temos de controle da pandemia só é possível com a vacinação”, afirma o sanitarista.

Os bancários fazem parte das categorias essenciais citadas por Claudio Maierovitch, de acordo com o Decreto nº 10.329  - especialmente os empregados da Caixa, que realizam o pagamento do Auxílio Emergencial desde o início da pandemia. Justamente por este e outros benefícios sociais, que necessitam de atendimento presencial nas agências, os empregados ficam mais expostos à contaminação da doença e deveriam ser prioridade na vacinação. É o que defende a epidemiologista Maria Juliana Moura Corrêa, pesquisadora associada à Fiocruz na área de Saúde do Trabalhador. 

“Os empregados da Caixa e demais trabalhadores considerados essenciais deveriam ser a população prioritária para a vacinação, inclusive para ser grupo alvo de barreiras sanitárias, em territórios produtivos e reduzir a transmissibilidade”, disse. “Porque foi esse grupo que ficou impedido de realizar distanciamento social e que se expõe diariamente de diversas formas durante o trabalho, diferente de outros grupos de riscos que podem adotar o distanciamento social e demais medidas de proteção” disse Maria Juliana, que também é uma das coordenadoras do projeto Rede de Informações e Comunicação sobre Exposição de Trabalhadores ao SARS-CoV-2, da Fiocruz.

A epidemiologista destaca que desde o lançamento do projeto os pesquisadores já alertavam sobre trabalhadores como população de risco. O problema é que o descontrole do Governo e o desinteresse em garantir as vacinas, além da falta de precisão para a chegada das doses, impedem uma estimativa segura de quando os bancários serão imunizados.

Até lá, afirma Claudio Maierovitch, o uso de álcool em gel, máscaras e, principalmente, o distanciamento social são medidas que não devem ser relaxadas. “No caso do atendimento bancário, precisa haver um esforço para permitir muita ventilação nos ambientes e que haja restrição nos locais de atendimento e distanciamento para diminuir o risco. E claro, o uso de máscaras de boa qualidade”, ressaltou.

Mas estes protocolos, assim como seu cumprimento, não estão garantidos aos bancários da Caixa. Os empregados têm denunciado o afrouxamento das medidas de segurança e prevenção nas agências. E é também o que aponta uma outra pesquisa – O projeto Dossiê Covid-19 como uma doença relacionada ao trabalho tem objetivo de produzir um dossiê sobre a Covid-19 em atividades de trabalho. Os bancários fazem parte dos grupos pesquisados – por meio de formulário com questionamentos específicos, o estudo sistematiza informações particulares às condições de trabalho presencial.

Até o momento 628 empregados da Caixa responderam. Os dados mostram que mais de 70% dos participantes informaram que no local onde trabalha faltam ventilação, janelas ou outra abertura para o ambiente externo. A maioria também informou que há contato próximo com os clientes ou colegas de trabalho.

Tanto os empregados que tiveram a doença quanto os que não se contaminaram responderam de forma similar, o que dá credibilidade às informações sobre as condições de trabalho. A pesquisa ainda não foi concluída; portanto, ainda há tempo de responder e dar a sua opinião sobre a realidade da sua agência. Participe

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