O 8 de Março marca o Dia Internacional da Mulher e, como ocorre tradicionalmente, neste mês as vozes femininas ganham espaço para reivindicar direitos e contar suas trajetórias. Nos outros meses, em que não ganham, disputam: embora representem 45% da população economicamente ativa no Brasil, estudem mais e sejam maioria por trás dos pequenos empreendimentos e dos chamados trabalhos invisíveis (como cuidar de uma casa, por exemplo), as mulheres ainda são preteridas em cargos e espaços de poder.

Exemplos notórios são a composição do atual governo federal, um retrocesso – no governo Dilma, por exemplo, passaram 18 ministras; hoje são duas. Já no Congresso há apenas 75 deputadas (14,6% da Câmara) e 11 senadoras (13,6% do Senado), colocando o País em 140º lugar no ranking de países com representação feminina no Legislativo. Na alta administração das empresas brasileiras o cenário não é diferente, e para se chegar à equidade há uma longa caminhada em curso.

No Brasil, segundo o estudo “Women in the Boardroom” (“Mulheres nos conselhos de administração”), divulgado pela consultoria internacional Deloitte ao final de 2019, só 8,6% dos assentos em conselhos de administração eram ocupados por mulheres. Ao incluir 49 países, a pesquisa apurou como média 16,9% de mulheres nesses postos pelo mundo. O primeiro lugar coube à Noruega (41%) e o segundo à França (37%). O Brasil vinha em 38º lugar, abaixo de China (10,6%), Índia (13,8%) e África do Sul (26,4%) e praticamente empatado com a Rússia, para ficar apenas nos BRICS. No fim da lista figuravam Arábia Saudita e Qatar, nos quais o percentual não chegava a 1%.

Ainda em terras nacionais, estudos mais recentes apontam que, consideradas todas as companhias que fizeram Oferta Inicial de Ações (IPOs) em 2020, de um total de 116 conselheiros apenas 13 são do sexo feminino, o equivalente a 11,2%. É um patamar parecido ao divulgado pelo Spencer Stuart Board Index Brasil no final do ano passado, que apurou percentual de 11,5% de mulheres nos CAs de empresas brasileiras. O crescimento é tímido, mas a boa notícia é que mais da metade dos Conselhos (57%) apresentou pelo menos uma mulher na sua composição, contra 53% no ano anterior. No entanto, no cômputo geral de representantes femininas pelos CAs do País, quando se faz o recorte da raça, reproduz-se igualmente o preconceito: do total de conselheiras apenas 2 são negras.

E por que, afinal, somos tão importantes também nos conselhos? Por uma razão óbvia: porque agregar diversidade às discussões e decisões é garantir a representatividade de metade da população, é dar voz a temas como equiparação salarial, políticas de igualdade de gênero, humanização das relações. É também expansão econômica, inclusive do ponto de vista das empresas, sejam elas estatais ou privadas, pois as mulheres entendem melhor as necessidades dos consumidores, da sociedade. Mas o caminho para igualdade é gigante, e começa necessariamente pelas condições de trabalho. Há três anos, por exemplo, o Fórum Mundial divulgou que a equidade de remuneração entre homens e mulheres aportaria um PIB global de 28 trilhões de dólares/ano. No entanto, consideradas as diferenças salariais globais e seu ritmo, isso só seria possível num prazo de 99,5 anos; ou seja, demoraria quase um século.

Uma notícia boa é que nos conselhos das estatais federais, entre os eleitos pelos trabalhadores as mulheres representam 28% (de 49 eleitos, 14 são mulheres), índice muito acima da média do Brasil. Como representante dos empregados da Caixa, tenho neste momento o privilégio de compartilhar experiências com as também conselheiras eleitas pelos trabalhadores de empresas públicas Rosangela Buzanelli, da Petrobras; Selma Beltrão (Embrapa) e Débora Fonseca (Banco do Brasil). Todas empenhadas na defesa dos direitos dos trabalhadores e na manutenção destas empresas a serviço e como patrimônio do povo brasileiro.

Com elas, apresentarei no próximo dia 8, justamente no dia internacional da mulher, uma live para discutir essas e outras questões, a partir das 19h nos canais virtuais da gestão Rita Serrano e do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, que coordeno. Participe e compartilhe: vamos, juntas e juntos, trabalhar para que mais mulheres se tornem líderes em todos os espaços da sociedade, repudiando a discriminação, a violência e o machismo dos que insistem em querer nos calar.

Queremos um mundo de respeito e paz para todos.

Rita Serrano é mestre em Administração, representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas

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